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Em 2013, os responsáveis pelos dicionários da Universidade de Oxford (Inglaterra) escolheram selfie como a palavra do ano. Um dos motivos para esta escolha foi o fato da busca por esta palavra ter crescido 17000% naquele ano, o que confirma o seu estatuto de uma das palavras mais procuradas em um ano. 

Selfie é uma palavra em inglês, um neologismo com origem no termo self-portrait, que significa autorretrato, em outras palavras é uma foto tirada pela própria pessoa e geralmente postada nas redes sociais. 

O fato da crescente busca pelo significado e também a prática das selfies, mostram que o escritor francês Guy Debord (1931-1994) estava certo ao afirmar que “as relações sociais são mediadas por imagens”. Esse é mais um fenômeno da pós-modernidade, em outros tempos, existiam outros fatores que mediavam às relações sociais, como a religião ou a política, por exemplo. 

Guy Debord desenvolveu esse conceito em um livro que ficou muito famoso e continua sendo “La société du spectacle” (A sociedade do espetáculo) lançado em 1967. Nesse texto, Debord defende como em nossas sociedades contemporâneas há uma “espetacularização” da vida. Para o pensador francês, os cidadãos são transformados em plateia passiva e as grandes questões sociais, em imagens a serem consumidas. 

Esse viés de pensamento nos ajuda a compreender como as vidas das pessoas se tornaram um espetáculo a ser exibido nas redes sociais por meio das selfies. 

Debord era um pensador marxista, e sua crítica recai sobre o fato de que a sociedade é incapaz de agir mediante a desigualdade social e pobreza. Mas ele também é fruto do seu tempo. E acertou quando percebeu que o comportamento das pessoas do nosso tempo é marcado pelo espetáculo. Debord acreditava que nos tornamos meros espectadores da pobreza e das mazelas da humanidade e que o homem deixou seu papel de ator para ser um mero espectador. 

Porém, com o advento das redes sociais, diria que surgiram novos “atores” e o espetáculo continua, mas, agora assistimos a vida um dos outros, como se fosse um “Big Brother” da vida real, se é que se pode chamar o que se posta nas redes sócias de real. 

Já fiz menção sobre isso em outro texto, ninguém posta uma foto com expressão triste e diz estar “chateado (a)” por ter brigado com o cônjuge. Pelo contrario, a vida exposta nas redes sócias é um verdadeiro espetáculo, muitos sorrisos, momentos felizes, paisagem paradisíacas, rodas de amigos, enfim, felicidade constante. 

E do outro lado da tela do smartphone está um espectador que vez ou outra também é um ator, mas que ao se deparar com aquelas belas imagens se pergunta: porque minha vida não é assim?

O que esse espectador/ator não percebe é que na sociedade do espetáculo tudo é artificial, nada é real. Tudo é feito para impressionar, para ganhar “likes”. A sociedade do espetáculo está fundamentada no tripé Atuação/desempenho, Plateia e Emoção. 

A atuação perfeita, ou seja, a selfie perfeita vai atrair a plateia, isso vai gerar a emoção esperada e consequentemente como já disse, o objetivo são os “likes”. Nada disso é real. Por isso não devemos mensurar nossa felicidade de acordo com a aquilo que as pessoas estão postando nas redes sociais. 

Na verdade, a comparação é o pior caminho para se medir a felicidade, ainda mais quando comparado com o que seus amigos estão postando. A melhor maneira de se obter a felicidade é por meio da gratidão. Ser grato por aquilo que você tem e focar naquilo que você já conquistou até aqui te levará a uma vida feliz. O segredo da felicidade está em saber aproveitar aquilo que você tem, ao invés de focar naquilo que você deixou de conseguir ou naquilo que o outro tem. 

Alison Henrique Moretti


Anuncie com Jornal Noroeste
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