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O domingo de Páscoa não foi uma data festiva para a família da jovem de 17 anos Yasmin Gabrielle, que ficou conhecida por suas apresentações no palco do Programa Raul Gil e chegou a trabalhar como assistente do programa foi encontrada morta na manhã de Páscoa (21).

Ao que tudo indica Yasmin sofria de depressão já há alguns anos desde que perdeu a mãe que morreu de câncer. Desde então o quadro psicológico da jovem veio se agravando até que resultou no suicídio. 

Como já disse em outros artigos, não sou psiquiatra para falar com propriedade das patologias da mente e nem psicólogo para analisar o comportamento humano, mas faço desse artigo uma analise filosófica acerca do caso. 

Na filosofia a questão do suicídio sempre foi motivo de muita discussão entre os filósofos, a grande questão é: a vida vale ou não a pena ser vivida? Já na Grécia antiga, berço da filosofia, Platão aponta-nos que o suicídio só seria legítimo caso o suicida sofresse de doenças crônicas, incuráveis e dolorosas que trariam a certeza de um destino miserável e humilhante.

Contudo, a escola que mais imediatamente nos vem à mente quando se trata da fundamentação sobre o direito ao suicídio é a estoica, para a qual ele pode constituir um ato apropriado em certas circunstâncias. Para esses filósofos, trata-se de um ato racional, aliás, o mais racional de todos. E eles chegam a estabelecer alguns “parâmetros”: pela pátria ou pelos amigos; pelo desejo de evitar cometer atos vergonhosos ou dizer coisas indizíveis forçados por um tirano; porque uma grave enfermidade impede que a alma possa usufruir do corpo como instrumento por um período mais longo; por pobreza extrema; por um estado de demência ou desvario. Todos estes poderiam ser considerados “motivos racionais” para sustentar a opção pelo suicídio.

Foi no período da filosofia medieval (400-1500) que a vida ganhou valor e o suicídio passou a ser condenado até mesmo pelo pensamento filosófico, haja vista que nesse período a filosofia era serva da teologia cristã e consequente incorporou seus valores. 

Já no final da Idade Média e inicio da era Moderna, pensadores como Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592), começa a articular novas ideias acerca da busca voluntaria pela morte, de acordo com Montaigne dizer que a escolha pela vida ou morte pertence ao próprio indivíduo não implica que ele deva escolher a morte, ou seja, não acarreta que o suicídio seja a melhor escolha. Ao sentimento de dúvida que forma a base da argumentação em torno da pertença, pode-se contrapor a noção de que o indivíduo pertence a si mesmo, tão cara à modernidade. De certo modo Montaigne está recorrendo ao argumento da liberdade, partindo dessa noção inovadora que era comum em sua época, liberdade das correntes impostas pela Igreja.  Em ouras palavras, se o individuo deseja tirar sua própria vida, essa não é uma boa opção, porém ele é dono de si mesmo e cabe a ele decidir. 

O problema de toda essa “liberdade” que a modernidade atribuiu ao homem é que chegou um ponto em que o mesmo si viu tão livre que percebeu que estava perdido. Ou seja, nada mais fazia sentido, é o que chamamos de ausência de absolutos, ou relativismo. Na era pós-moderna não existe nada absoluto, cada individuo constrói seu “castelo” de verdades e isso se aplica somente a ele mesmo. O problema desse “castelo particular” é que seus alicerces são frágeis e a qualquer momento podem ruir. 

O problema se aplica novamente em torno da capacidade de bem julgar acerca do sentido que se dá à vida. A densidade subjetiva que a pós- modernidade causou na sociedade deixou-nos com uma sobrecarga de responsabilidade sobre nossas escolhas, nossos julgamentos acerca do bem viver e do bem morrer que resultaram numa grande angústia existencial.

Arthur Schopenhauer (1788-1860) no que tange ao problema do suicídio escreveu que “o suicida quer a vida; porém está insatisfeito com as condições sob as quais vive. Quando destrói o fenômeno individual, ele de maneira alguma renuncia à Vontade de vida, mas tão somente à vida”.  Em outras palavras Schopenhauer está dizendo que ao cometer suicídio, o suicida está optando pela vida, mas, ludibriado pela dor e o sofrimento da sua atual situação, ele cai no engano de que a morte lhe parece ser a única solução. 

Parece-me que foi isso que aconteceu com a jovem Yasmin e com tantas outras pessoas que cometem suicídio diariamente no mundo. O suicida não quer a morte, quer apenas cessar o sofrimento, ele anseia por uma vida melhor, talvez, uma vida onde os atuais problemas que ele vivencia fossem inexistentes. 

A melhor maneira de ajudar uma pessoa que está à beira de cometer um ato lastimável como esse é ajuda-lo a lidar com a realidade. O professor e psiquiatra Viktor Frankl (1905-1997), que foi um dos sobreviventes dos campos de concentração nazista, diz em seu famoso livro “Em busca de sentido” que a principal preocupação de uma pessoa que está sofrendo não consiste em obter prazer ou evitar a dor, mas antes em ver um sentido em sua vida. 

Se você conhece ou está próximo de alguém que está sofrendo ou até mesmo depressiva, procure mostrar a essa pessoa que apesar de tudo o que ela está passando a vida ainda tem um sentido, nas palavras do Dr. Frankl “viva como se já estivesse vivendo pela segunda vez, e coma se na primeira vez você tivesse feito tudo errado, mas agora você tem uma nova chance, de um novo sentido para a sua vida”. 

Alison Henrique Moretti


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