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Antes de tudo vamos deixar claro que esse não é um texto que trata da Independência do Brasil apesar do titulo. É verdade que tomo emprestado e faço um trocadilho com a famosa frase “dita” por D. Pedro quando este estava próximo ao riacho do Ipiranga e levantou a espada e gritou: “Independência ou Morte!”. Este fato histórico ocorreu no dia 7 de setembro de 1822 e marcou a Independência do Brasil, vale lembrar que estamos na véspera do aniversario de 197 anos dessa data tão importante para a história do Brasil. 

Mas o texto de hoje não é sobre história, vamos falar sobre as fontes do sofrimento que ameaçam o ser humano, ou para usar uma linguagem freudiana, O Mal-Estar na Civilização. Adianto desde já que minha tese é que esse mal estar é fruto de um longo processo que vem se desenvolvendo nos últimos cinco séculos. Porém, é preciso dizer que  Independência tornou-se morte logo no inicio, o livro do Genesis que em hebraico significa “no principio” já nos mostra isso. 

Quando Adão e Eva comeram do fruto proibido, a motivação que levou o casal a cometer tal ato foi despertada pela serpente, essa, disse ao casal: Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal (Gênesis 3:5). 

Desde o principio paira sobre a humanidade o desejo de sermos “deuses”, autônomos, livres, criadores de mundos e dos nossos próprios valores. 

A busca pelo principio de liberdade que assombra a humanidade dentro dos moldes modernos teve inicio há 500 anos. 

A ideia de que estávamos “presos” e que precisávamos de liberdade começa a surgir durante o Renascimento cultural do séc. XVI e chega a seu auge no Iluminismo durante o séc. XVIII. Os pensadores Iluministas diziam que durante séculos a humanidade esteve presa as amarras da Igreja, essa que segundo esses pensadores, sempre foi um empecilho para o progresso e o desenvolvimento. 

Podemos afirmar que o Iluminismo foi o “grito” de independência da humanidade. Em dezembro de 1784 o filósofo alemão Kant publicava um artigo intitulado “Resposta à pergunta: que é o Iluminismo”? Kant respondia: “É à saída do homem de sua menoridade [intelectual] da qual ele mesmo é responsável”.

Que se entende por menoridade? “A incapacidade do homem de servir-se de seu entendimento (de seu pensamento) sem ser dirigido por outras pessoas (por tutores ou conselheiros)”.

Dessa incapacidade o homem é responsável porque falta para ele decisão e coragem. Ousar pensar. Pense, tenha coragem de pensar e de usar o seu próprio entendimento. Emancipe-se! Essa é a grande mensagem do Iluminismo.

Apesar de vivenciar a “Era da razão”, Kant estabeleu limites para razão, ele dizia que o homem durante a sua finita e imperfeita existência, por mais que se esforçasse seria impossível ter acesso ao conhecimento de conceitos metafísicos como a alma e Deus. 

Assim, na concepção kantiana, Deus, alma e coisas do tipo pertencem à outra realidade, ao qual não temos acesso por meio da razão. Sendo assim, a razão humana fica impotente para lhes dar conteúdo; por isso, tais ideias são incognoscíveis. 

Sendo assim, para Kant, ser autônomo ou ser independente é se livrar das amarras impostas pelas instituições, que nesse caso seria a Igreja. Devemos ter em mente que Kant acabara de sair de um período onde Deus era propriedade da Igreja, daí a máxima: não existe salvação fora da Igreja Católica Romana. 

É verdade que a Reforma Protestante iniciada no séc. XVI derrubou essa ideia, mas ela ainda era muito forte nos dias de Kant. Para que houvesse liberdade e independência, Kant estava derrubando a ultima barreira, não precisamos de Igrejas e sacerdotes para nos mostrar Deus, pois nossa razão é limitada e não conseguimos compreende-lo. 

Se não temos mais Deus devido à impossibilidade de conhecê-lo, o que temos agora? Kant e seus amigos diriam: temos a razão e a liberdade, somos seres autônomos e independentes. 

A promessa feita pelos pensadores Iluminista de que o mundo seria um lugar melhor falhou. As duas grandes guerras logo na primeira metade do século XX nos provam isso. 

A busca pela autonomia e liberdade trouxe consigo um mundo louco e sem significado. Vivemos o momento do pós-tudo, somos pós-modernos, pós-história, pós-sociologia, pós-filosofia... Encontramo-nos numa situação em que rejeitamos os sistemas de pensamentos dos últimos três séculos, pois, eles se mostraram ineficazes. Porém, não conseguimos encontrar uma nova verdade, não encontramos algo de compatível magnitude para tomar o lugar de Deus.  

Os racionalistas não descobriram nenhuma solução racional que pudesse nos trazer esperança. Portanto, verificamos que o polo final em liberdade autônoma é ser louco, logo, essa loucura nos leva a morte. Independência é morte. 

Alison Henrique Moretti


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