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Uma semana de Brumadinho


Por: José Antônio Costa
Data: 01/02/2019
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Hoje, sexta-feira, 01 de fevereiro completa uma semana do desastre em Brumadinho (MG). O município localizado na região metropolitana de Belo Horizonte com população estimada em pouco mais 39 mil habitantes se tornou notícia no mundo todo quando uma barragem da mineradora Vale na Mina Córrego do Feijão ruiu e provocou uma onda de lama com morte e destruição.

Lembro perfeitamente do ano de 1996. Estava com 11 anos. A alegria era viver parte das férias em família no sítio dos meus tios em Tamarana, distante de Londrina uns 60 quilômetros. Começou a chover, a região cheia de morros e acidentada geograficamente junto a terra vermelha impedia a volta para casa, o carro deslizava na lama. Um vizinho veio avisar que a barragem de uma fazenda (que pertencia a uma família muito rica de Londrina) alguns quilômetros acima do sítio onde estávamos poderia romper.

Naquela noite meu pai colocou o carro num morro. Eram 4 horas da manhã quando minha mãe chamou apavorada. “A represa estourou”. O barulho era horrível. Árvores sendo arrastadas pela força da água. Saímos todos correndo e subimos no morro. Aquela água barrenta mudou o leito do pequeno rio que passava poucos metros da casa onde estávamos. Levou a ponte, arrastou carros, matou muitos animais, derrubou casas e causou um transtorno enorme. Equipes da Globo, SBT e da Gazeta do Povo estiveram no local para a reportagem. Sem a ponte, ficamos ilhados. Utilizando uma “pinguela” (ponte improvisada com tronco), carregamos algumas roupas numa sacola e seguimos a pé até a Rodovia para voltarmos de ônibus a Nova Esperança. Nosso carro veio semanas depois.

A lembrança deste episódio fez imaginar o sofrimento das famílias em Brumadinho. Nem de longe existe comparação. Até ontem às 10h os números oficiais da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais contabilizavam 99 mortos e 259 desaparecidos, além de 393 localizados. Essa contagem, no entanto sofrerá alterações, pois mais corpos estão sendo encontrados.

É possível imaginar a situação do local. Lá são centenas de milhares de pessoas afetadas pelo fato. Hospitais, asilos, presídios e serviços essenciais precisam ser abastecidos por caminhões pipa. Toda a economia dos municípios vizinhos está comprometida. As escolas serão prejudicadas na volta às aulas, a agricultura inviabilizada. Imagino que o comércio tenha parado, pois falta água até para os banheiros. Bares e restaurantes estão adotando material descartável para servir, mas não existem panelas descartáveis e essas precisam ser lavadas. Não existe água para o banho das pessoas. Em síntese essa seria uma análise vaga.

Se existe algo a destacar, seria a coragem e determinação das equipes de socorro, como os bombeiros, policiais, defesa civil e voluntários. A rápida mobilização dos brasileiros de todos os lugares com doações e ajuda humanitária, além da colaboração dos 130 militares israelenses.

As pessoas estão sofrendo as consequências do que talvez seja um dos maiores crimes ambientais. A “tragédia” é ambiental, ecológica, econômica e hídrica. As consequências serão sentidas por muitas décadas.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) divulgou relatório na quarta-feira, (30) apontando que foram devastados 133,27 hectares de vegetação nativa de Mata Atlântica e 70,65 hectares de áreas de proteção permanente ao longo de cursos d’ água.

Além do crime ambiental existe a perda de vidas, de bens materiais e culturais. Como ficará a saúde das pessoas afetadas e contaminadas indiretamente com esses metais pesados?

O desastre que deve ser considerado crime, acontece três anos depois do acidente de Mariana, também em Minas Gerais, quando uma barragem de rejeitos da Mineradora Samarco, que tem a Vale como uma das suas acionistas causou a morte de 19 pessoas.

 É uma vergonha que a lição não tenha sido apreendida pela Vale com a tragédia de Mariana. Estamos em 2019 sem que as vítimas fossem indenizadas e os culpados punidos. Vidas que não voltam. Famílias destruídas. Desolação total. O lucro acima de tudo.

 

“Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela”.

Maquiavel (1469 – 1527), foi um filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico de origem florentina do Renascimento.

José Antônio Costa


Anuncie com Jornal Noroeste
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