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O “bichinho virtual” alimenta o real


Por: José Antônio Costa
Data: 06/09/2019
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O ano era 1996, estava na 6ª série e um brinquedo conhecido como ‘Tamagotchi’ (título em japonês que junta os termos “tamago”, ovo nesse idioma, e watch, vigia em inglês) fazia sucesso entre as crianças com o nome popular de “bichinho virtual”.

Era proibido levá-lo para a escola, mas muitas vezes o bichinho estava escondido na mochila. O brinquedo tinha um formato redondinho, tela pixelada e também podia ser usado como chaveiro. A brincadeira consistia em cuidar de um animal virtual, oferecendo a ele comida, carinho e banho (igualmente virtuais). O desafio era manter o animalzinho vivo.

Explorando a nostalgia da infância a fábrica japonesa Bandai relançou o Tamagotchi no Japão em 2017 e neste ano, em novembro será relançado na América do Norte. Ainda não há previsão de lançamento do brinquedo no Brasil. O novo modelo faz mais do que dormir, apitar e morrer. O relançamento do brinquedo é mais um exemplo da moda retrô, uma onda de reedições de brinquedos que foram símbolos dos anos 1980 e 1990.

Eu nunca quis um bichinho virtual, mas hoje percebo que os papéis foram invertidos. Se na década de 90, o humano “alimentava” o virtual, em 2019 o virtual tem alimentado o humano ao qual atribuí o título desta coluna como uma alusão ao mundo real.

Perceba que estamos sempre conectados. O celular em mãos é uma prova inequívoca que o virtual está alimentando o real. A alimentação é quase literal. Essa semana ouvi falar de um conhecido estava se alimentando seguindo uma dieta proposta por um aplicativo que direciona os alimentos e momentos certos para comer. Esse é o “bichinho real”.

Ao dirigir, conectamos o GPS e quase robotizados não observamos a paisagem, ou os locais por onde passamos. No passado era necessário memorizar, “você percorre três quadras, na casa amarela você vira à direita, tem uma árvore bem grande, a grade verde, é ali a nossa casa”, desta maneira os parentes informavam o endereço.  

Hoje, na tela, não podemos perder nada e ao mesmo tempo perdemos tudo a nossa volta. É tão automático que esperamos a frase em áudio do aplicativo do GPS: “você chegou ao seu destino”. Dias desses estava procurando um endereço, porém o GPS mandou para um local diverso. Ao prestar a atenção, o local pretendido estava a apenas setenta metros.

Tive uma experiência interessante na região sul de Minas Gerais. Lá o tempo está passado um pouco mais devagar. Algumas pessoas têm celulares com a função básica: fazer e receber ligação. Vi filhos adultos pedindo a bênção ao Pai e a Mãe.

Porém, os tempos são outros. Vivemos a quarta revolução industrial, ou Indústria 4.0, conceito desenvolvido pelo alemão Klaus Schwab. Segundo ele, a industrialização atingiu uma quarta fase, que novamente “transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos”. É um período de transição da revolução digital. Internet das coisas, inteligência artificial e robótica são alguns campos em que é fácil identificar mudanças práticas na vida das pessoas.

Se na década de 90 até o início dos anos 2000, as doenças incapacitantes ao trabalho estavam relacionadas ao esforço físico. Doenças emocionais a exemplo da depressão são apontadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a mais incapacitante em 2020. Em suma, o bichinho real não nasceu para ser alimentado apenas pelo virtual.

“Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”.

Mateus 4:4 – Bíblia Sagrada

José Antônio Costa


Anuncie com Jornal Noroeste
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