Dinheiro minguado para as pesquisas científicas
Na semana passada o governo de Jair Bolsonaro anunciou um novo corte no já reduzido orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). A medida ameaça o pagamento de bolsas de estudo e, por extensão, a produção científica brasileira.
Nas últimas duas décadas, a produção científica brasileira cresceu de forma expressiva. Em 1998, nossos cientistas publicaram 11.839 artigos, número que colocava o país em 20º lugar no ranking dos que mais publicam. Pouco mais de vinte anos depois, com uma produção anual sete vezes maior, saltamos para o 13º. Tal levantamento foi feito pelo biólogo da UnB (Universidade de Brasília), Marcelo Hermes-Lima a partir da base de dados aberta Scimago, que mostra o salto da produção brasileira.
Algumas das principais entidades científicas do país estimam que com a redução de verbas destinadas ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), só será possível cobrir auxílios a alunos e pesquisadores até julho. Para o resto do ano não há verba.
“Se essas restrições orçamentárias não forem corrigidas a tempo, serão necessárias muitas outras décadas para reconstruir a capacidade científica e de inovação do país”, afirmou o texto assinado por Academia Brasileira de Ciências, Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência e Tecnologia e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, entre outras.
O governo anunciou que congelaria R$ 29,582 bilhões das despesas previstas para esse ano em razão da revisão do cenário econômico, com menos crescimento e, por consequência, menor arrecadação.
Você pode estar se perguntando, qual a importância da pesquisa para o país? A preocupação das entidades científicas é que áreas importantes como o enfrentamento de epidemias emergentes, a busca por novas fontes de energia e as pesquisas em segurança alimentar podem ser duramente afetadas.
Quase a totalidade da pesquisa brasileira é desenvolvida por alunos de pós-graduação. Um bolsista de mestrado ganha R$ 1.500,00. Os alunos de doutorado, R$ 2.200,00, sem contar os atrasos no pagamento. Cabe salientar também que uma minoria de estudantes recebem bolsas. A imensa maioria acaba custeando os estudos com recursos próprios, produzindo “conhecimento para o país”.
A importância da pesquisa científica para o país está relacionada ao desenvolvimento econômico de forma direta. Justifico a afirmação com um trecho do artigo do Professor Ernane Xavier da Costa, que é livre docente da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP – Pirassununga, publicado em setembro passado.
“Os nossos gestores da política científica parecem não entender que a economia mundial depende fortemente do conhecimento e este, por sua vez, move-se para além das fronteiras espaciais ficando à mercê inclusive de influências externas. E, nesse ponto, não gerar emprego para cientistas implica na geração de pobreza. E o futuro da pobreza, meus queridos, não poderá ser compreendida até que os gestores da política científica deste país levem em conta as implicações desse fato.
Olhem para o que aconteceu na Coreia do Sul. Lá, a política científica exigiu investimentos de curto prazo que geraram uma reação em cadeia que, a longo prazo (falo de 20 anos apenas), ajudou a população a ultrapassar a linha da pobreza. Os gestores do espaço do lado de lá vislumbraram um sistema de riqueza baseado em conhecimento. Essa visão evoca a imagem de uma política científica onipresente em todas as necessidades sociais de interesse público e (principalmente) privado capaz de gerar mudanças necessárias para um crescimento econômico real”.
Torço para que o governo entenda a pesquisa brasileira não como gasto, mas sim, investimento no desenvolvimento do país.