Opinião
Extremismo que mata!
A morte do guarda municipal Marcelo Arruda, na noite do último sábado, (09/07), em Foz do Iguaçu, em sua própria festa de aniversário, revela uma face do extremismo que mata. Arrisco afirmar que os extremos são sempre perigosos.
Arruda era filiado ao PT, tesoureiro do partido e foi candidato a vice-prefeito de Foz do Iguaçu em 2020. Escolheu comemorar com motivos ligados ao ex-presidente Lula (PT). Ele foi morto a tiros durante sua festa de aniversário de 50 anos por Jorge José da Rocha Garanho, agente penitenciário federal e apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). Garanho também foi atingido e segue na UTI respirando por aparelhos.
A falta de empatia e respeito a opinião alheia foi a “causa mortis”. Testemunhas disseram que o autor dos disparos chegou dizendo “aqui é Bolsonaro”. Talvez a mesma guerra que por vezes se instala em troca de acusações nas redes sociais, infelizmente ganhou proporções reais.
Sustento a estranha tese que o excesso de tecnologia tem afastado as pessoas. Embora os recursos tecnológicos existam para facilitar a comunicação, os seres humanos perderam a capacidade de dialogar, as pessoas não respeitam a opinião dos outros e isso é comprovado em comentários ácidos e agressivos em redes sociais.
O debate que deveria expor opiniões divergentes é levado com frequência para o lado pessoal. Atrás do computador ou celular, as pessoas se comportam de forma mais corajosa para expor suas ideias.
Seres humanos dotados de inteligência e abençoados com a visão, fala, audição deixam se levar pelo calor das emoções e ofendem amigos nas redes sociais, tratam mal familiares, xingam vizinhos, ofendem colegas de trabalho pelo simples fato da opinião do outro ser divergente da dele.
A favor ou contra, direita ou esquerda, coxinha ou mortadela, “bolsominions” ou “petralhas”, cada um tem o direito de manifestar o seu descontentamento, desde que não gere ódio.
O momento atual não é de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do diálogo à exaustão. As eleições acontecerão em outubro. As manifestações populares são um direito democrático que deve ser assegurado a todos pelo Estado. Devem ser pacíficas, com o respeito às pessoas e instituições. Discordar é válido. Isso é básico numa democracia e faz com que as diferenças promovam o crescimento.
Matar e morrer por paixões políticas é no mínimo ridículo. A política é a arte da conveniência. Lembro dos embates da eleição de 2006, quando Lula (PT) e Alckmin (PSDB) disputaram o 2º turno e durante a campanha trocaram muitas farpas. Hoje, Lula terá Alckmin como vice em sua chapa presidencial. E o que dizer de Bolsonaro (PL) que em 2018, afirmou que o Centrão era “o que há de pior no Brasil”, precisou se aliar ao Centrão para conseguir a governabilidade. Recentemente foi divulgado que de janeiro a junho/2022 a despesa do Palácio do Planalto com a Rede Globo foi de R$ 11,4 milhões, um aumento de 75% se comparado ao mesmo período do ano passado, ou seja, Bolsonaro, que já chamou a Globo de “lixo”, dobrou os gastos com publicidade na emissora.
A política é realmente a arte da conveniência. No dia 30 de junho, o Senado aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria o vale caminhoneiro de R$ 1.000,00, aumenta o vale gás para R$ 120,00 e o Auxílio Brasil para R$ 600,00, além de outros benefícios, estabelecendo o estado de emergência no Brasil ao custo de R$ 41,25 bilhões, foi aprovada quase por unanimidade dos senadores, apenas José Serra (PSDB-SP) foi contrário. Ou seja, a oposição votou a favor do governo para não ficar mal com o eleitor. O mesmo aconteceu na Câmara dos Deputados, a PEC foi aprovada na noite de quarta-feira, (13), em segundo turno com 469 votos a favor, 17 contrários e 2 abstenções.
A condenada prática do “toma lá, dá cá”, a troca de favores, método antigo na política, voltou a ser usada no governo Bolsonaro.
O fanatismo, a ignorância e o extremismo causaram morte em Foz do Iguaçu. A política continuará sendo o jogo de interesses em que os fanáticos morrem sem que os seus mitos reconheçam a sua existência.
“O fanatismo é a única forma de força de vontade acessível aos fracos”
Friedrich Nietzsche (1844 – 1900), filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX