A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


O medo


Por: R. S. Borja
Data: 04/07/2024
  • Compartilhar:

Há um ditado no meio futebolístico que diz “o medo de perder tira a vontade de ganhar”.

Medo, uma pequena palavra formada com apenas quatro letras, cuja a presença na vida de cada um de nós gera consequências de enormes proporções. Todos nós sentimos medo e, consequentemente, temos conhecimento dos seus principais sintomas que ele causa: o paralisante e o conformismo ou insensibilizador ou, ainda, enfraquecedor.

O medo nos coloca e nos faz permanecer em locais e situações desconfortáveis, nas quais continuamos para não perder os poucos e cada vez mais raros benefícios, aceitando as condições por não mais nos importarmos, até porque não temos forças para pensarmos em encontrar opções melhores.

Podemos, sem risco de errar ou exagerar, adaptar aquele ditado mencionado no início para todos os campos da nossa vida e concluir que “Nosso medo da morte nos retira a vontade de viver.”

Considerando o viver como sendo a soma de todos os momentos que temos, no período entre o início e o fim da passagem sobre a terra, para buscar o melhor para nós e para as demais pessoas, a aplicação desse ditado é tão evidente.

O medo da morte da relação nos torna reféns de situações abusivas e tóxicas, com a ilusão de que temos uma companhia, quando na realidade a única companheira é a solidão.

O medo da morte profissional nos faz permanecer em empregos insatisfatórios, com salários não condizentes com a nossa capacidade e sem perspectiva de melhora das condições ou da remuneração.

O medo da morte material nos impede de usufruir do dinheiro que recebemos de forma a nos retribuir pelo esforço realizado, adquirindo objetos, comidas, viagens que desejamos, mas que nos sentimos obrigados a guardar os valores para aquele momento que podemos precisar.

O medo da morte social nos obriga a amoldarmos e adaptarmos às opiniões e tendências aceitas quase de forma unânime, retirando nossa personalidade e individualidade, motivo pelo qual deixamos de usar roupas que gostaríamos, ouvir músicas que adoramos, usar termos e palavras que aprendemos serem as mais corretas.

O medo da morte do corpo nos impede de vivermos situações arriscadas, como ver o mundo do alto, através de um balão, avião, asa delta; de viajarmos para lugares distantes, belos mas gelados ou muito quentes, com estradas tortuosas; de conhecermos novas pessoas, colocando sempre em dúvida as intenções ou objetivos, chegando ao cúmulo de vivermos ou convivermos dias, meses e até anos com outras pessoas sem se conhecer, porque uma tem medo de cumprimentar e conversar e a outra de ser cumprimentada e ter que conversar.

Por fim, temos o medo do término da nossa estadia no planeta terra, ou seja, da morte propriamente dita. E esse medo é o mais interessante de todos. Primeiro porque é o único que é expressamente assumido por todos nós. Segundo, porque mesmo querendo continuar permanecendo nesse mundo, a maioria de nós, por conta dos outros tipos de medo, não vivemos, não usufruímos, não buscamos o nosso melhor e o dos outros, deixando claro que queremos só perpetuar sofrimentos, tristezas, entre outras coisas. Por fim, o medo da morte é o que produz os maiores e emocionantes atos de coragem.

A coragem pode ser resumida como a luta contra os efeitos do medo, em especial o paralisante e o conformismo. E em relação a morte, a coragem se apresenta ao não aceitar a proximidade dela mas especialmente em querer viver. E este querer viver está atrelado a um objetivo nobre: a elevação espiritual, o não querer deixar os entes amados desamparados, ser a companhia do amor da sua vida ou, simplesmente, para poder ver o sol, a lua e as estrelas, ouvir o canto dos pássaros por mais um dia ao menos.

E para cumprir essa nobre tarefa, essas pessoas blindam a alma e o espírito e se submetem a provações físicas que atingem corpos debilitados, suportando diariamente dores lancinantes, limitações funcionais que atingem visão, audição, locomoção, sofrimentos estes que não podem ser descritos.

A coragem dessas pessoas que, além de não se conformar com a morte, aceitam, para cumprir seus objetivos, se submeter a procedimentos dolorosos, a sujeitar seus corpos a dores que em outras ocasiões seriam insuportáveis, além de ser enaltecida, homenageada, propagada e cantada em rimas e versos, pode ser um inventivo para que enfrentemos nossos medos e consigamos, no tempo em que ainda possuímos para passear na Terra, fazer o que é mais importante: Viver.

 

R. S. Borja


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.