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O NASCIMENTO DE JESUS: O Natal que eu não conheci


Por: Luciano Rocha Guimarães
Data: 18/12/2023
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No Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e com ele um movimento esperado e apressado de presentes, enfeites, festas, cartões, árvores, Papai Noel e muita comida. Contudo, contrariando este burburinho que a sociedade gostaria que crêssemos, o primeiro Natal contrasta duramente com esta realidade. Não é isto que vemos nos primórdios do Natal. Pelo menos não é isto que a narrativa dos evangelhos nos aponta. Há uma discrepante descontinuidade entre o real e o fictício, entre o verdadeiro e o inventado, entre a manjedoura com o bebê e o “bom velhinho”. Por isso, faz-se necessário afastar-mo-nos um pouco da ilusão da festa para a seriedade dos evangelhos. Neles, há alguns acontecimentos que muitos desconhecem. 

A ANUNCIAÇÃO

 Ao invés de famílias tranqüilas e felizes ao redor de um pinheiro iluminado, à semelhança dos cartões modernos, o evangelho de Lucas registra que Maria ao receber a visita do anjo, anunciando sua concepção sobrenatural, teve medo: “Como será isto, pois não tenho relação com homem algum” (Lc 1:34), indagou ela preocupada. Ela sabia que as implicações desse fato seriam terríveis, já que naqueles dias na Palestina o adultério era passível de morte por apedrejamento. Esta era a lei inflexível de Moisés. E seus pais, o que diriam? Será que dariam crédito à sua história de um encontro com um anjo? E o seu noivo, José, será que acreditaria nela? Parece que inicialmente não creu, pois a deixou secretamente (Mt 1:19). Lá estava ela, então, uma humilde adolescente, sozinha, desamparada e abandonada pelo noivo, procurando refúgio na única pessoa que poderia compreendê-la, Isabel.  Mas o que mais desperta a atenção em Maria é que, diante de todas as implicações, ela não se acovardou e respondeu prontamente ao anjo mensageiro: “Aqui está a serva do Senhor, que se cumpra em mim conforme a tua Palavra (Lc 1:38).

Com grande frequência vejo que a obra de Deus, à semelhança de um aguçado punhal, vem acompanhada de dois gumes: grande alegria e grande sofrimento. Em sua resposta ao anjo, Maria abraçou os dois, sendo a primeira pessoa a aceitar Jesus com todas as suas implicações de vida ou de morte.

 

O NASCIMENTO 

A vinda de Jesus ao mundo segue a mesma esteira de dificuldades e sobressaltos: o recenseamento feito pelo império Romano, a viagem árdua de Nazaré a Belém feita por uma grávida em seus dias finais de gestação, a falta de acomodações adequadas ao chegarem na cidade, e por fim, um estábulo improvisado como hospedaria (Lc 2:1-7). Naquele lugar, tão diferente das atuais maternidades onde se prima pelo cuidado, higiene, conforto e atenção, nasceu o Rei, tendo por estrado uma manjedoura, um local onde os alimentos eram colocados para os animais. Há aqueles que insistem em dizer que os locais onde pernoitavam os animais eram cavernas, e não estrebarias construídas ao lado das casas. Se isto procede, Maria teve o seu bebê em uma caverna, pois eram em cavernas que os pastores das regiões altas de Belém guardavam seus rebanhos à noite, defendendo-os de animais e salteadores. Chesterton, o inigualável jornalista e escritor cristão inglês do século passado, diz que: “Foi num lugar assim, exatamente debaixo dos pés dos passantes, num subterrâneo sob o próprio chão do mundo, que Jesus Cristo nasceu”.

O que uma jovem adolescente poderia pensar diante desse quadro? Talvez ela questionasse: “Que Salvador seria este? Que rei viria ao mundo desta maneira? Como poderia Ele herdar o trono de Davi se o que tem é apenas uma manjedoura suja e improvisada em uma caverna encravada na rocha? Será que tudo isso não passou de um sonho?” Mas, aquilo que aos olhos humanos ainda era obscuro, Deus irrompeu em plena luz nos campos: a glória de Deus brilhou aos pastores (Lc 2:18-14). E enfim, os pastores haveriam de encontrar o seu Pastor. Também no firmamento, guiando os magos filósofos do oriente até o menino, brilhou a estrela (Mt 2:1-12). Todo aquele mundo de sabedoria de observar as estrelas na Caldeia e o sol na Pérsia culminou em recompensa. Eles eram aqueles que não buscavam apenas a história, mas sim a verdade das coisas; e sua sede de verdade era a sede de Deus. Ao receber presentes da realeza: ouro, incenso e mirra, penso que Maria deve ter se perguntado: “Quem será este menino verdadeiramente?”.

 

A MATANÇA DOS INOCENTES

 

Engraçado, nunca vi em um cartão de Natal, nem em uma vitrine de loja a descrição deste ato insano e terrorista patrocinado pelo Estado! Mas ele também faz parte do primeiro Natal. Herodes, sentindo-se ameaçado pelo nascimento de um rei, reagiu como de costume: ordenou que assassinassem todas as crianças de dois anos para baixo (Lc 2:16-18). Ficaríamos chocados pela sua crueldade se uma história semelhante já não ocorresse antes. Quem não se lembra que este ato insano também foi patrocinado pelo rei do Egito para reprimir o crescimento do povo judeu? (Ex 1:15,16). O mesmo choro dos inocentes infantes já se fizera ouvir num passado distante, sob o domínio de Faraó. Impressiona-nos a similaridade dos fatos. A liberdade de um povo e a liberdade de uma raça nunca vem só, mas acompanhada de pranto e dor. O preço da liberdade é extremamente caro.

E assim, Jesus entrou no mundo, em meio à disputa e ao terror, passando a sua infância exilada no Egito, como um refugiado em uma nação que trazia lembranças tão amargas (Mt 2:13-15). Logo após a morte de Herodes, um anjo ordenou a José que retornasse a Galiléia. Finalmente, eles poderiam ter um pouco de paz e tranqüilidade para criar o seu filho Jesus (Mt 2:19-23).

 

REVELANDO DEUS

 

Há duas coisas que ainda gostaria de acrescentar sobre o nascimento de Jesus. A primeira delas diz respeito ao seu nome. A sua interpretação mais provável sempre será “ajuda”, “libertação”, “salvação”, “Jeová é socorro” (Mt 1:21). Dentre todos os nomes de Israel, não poderíamos encontrar nenhum mais adequado. Segundo as Escrituras, foi através da operação direta de Deus que este nome foi dado ao Salvador do mundo (Mt 1:21; Lc 1:31 e 2:21).

Outra coisa a ser acrescentada diz respeito ao tipo de dádiva que Deus enviou ao mundo. Com Jesus, veio a redenção do homem. Este Homem podia ser o Salvador, porque Ele próprio não tinha nenhuma necessidade de redenção. O pecado sempre foi um legado maldito, passado de geração em geração, inexoravelmente. É evidente que o Salvador precisaria vir diretamente da mão de Deus, quebrando esta cadeia de pecado herdado. Assim, Jesus foi gerado, não através da cooperação de Deus, mas por sua exclusiva operação (Mt 1:18). O único Homem sem pecado, colocando-se em agudo contraste com o mundo caído. Ele é o dom através do qual a misericórdia de Deus nos foi outorgada.

Se Jesus veio revelar Deus ao mundo e a Sua redenção, então o que eu aprendo acerca de Deus neste primeiro Natal? A primeira lição é a humildade. Ao contrário do deus vingativo e insano de algumas religiões, Deus se humilhou em sua busca desesperada pela restauração do homem corrompido pelo pecado, à semelhança daquele pai da parábola narrada por Cristo, que mesmo depois do desprezo e abandono do filho mais novo, corre ao seu encontro para restaurá-lo à condição de filho (Lc 15:11-24). A segunda lição é a proximidade. Em Jesus, Deus nos deu um rosto e ele está coberto de pranto e dor. Ele se tornou acessível a todos os que o buscam. “Quem vê a mim, vê o Pai”, disse a Filipe (Jo 14:9). Em Jesus, sabemos que Deus não está distante, mas ao alcance e bem próximo de todos nós. Por fim, a terceira lição é o esvaziamento. Há um poema que traduz bem esta realidade:

 

“O Deus de poder,

enquanto percorria

em suas majestosas roupagens de glória,

resolveu parar;

e assim um dia Ele desceu,

e pelo caminho se despia”.

 

O Deus que se fez Homem, o Homem que se fez Servo, e o servo mais humilde da casa, que se rebaixou ao ponto de se inclinar e lavar os pés dos convidados (Jo 13:1-5). Ele se esvaziou de sua glória para absorver o nosso pecado na cruz, reconciliando-nos com o Pai.

Seria bom se o mundo conhecesse a história do primeiro Natal.

Luciano Rocha Guimarães


Anuncie com Jornal Noroeste
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