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A RELIGIÃO HUMANISTA


Por: Luciano Rocha Guimarães
Data: 20/12/2021
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Gilbert Keith Chesterton, o afamado escritor e jornalista inglês do século passado, já nos havia alertado sobre os perigos do homem ao abandonar a Deus. Segundo Chesterton em seu livro, O Homem Eterno, quando o homem abandona a Deus, ele coloca outro em seu lugar. Eis o cerne da revolução religiosa da modernidade: o homem transferiu a fé em Deus para a fé na humanidade. O objeto da fé, portanto, se deslocou de Deus para o homem, criando assim a religião humanista. Ela cultua a humanidade e espera que esta assuma o papel que era de Deus no cristianismo. Seu mandamento primordial é claro: criem um significado para um mundo sem significado, extraído de suas experiências interiores. O humanismo tem tentado nos convencer de que o homem, e não Deus, é quem detém a fonte suprema de promover significado, tendo em sua liberdade de escolha o fundamento da autoridade. Em vez de buscar alguma forma de autoridade fora dele que o diga o que é o que fazer, ele agora é capaz de se basear em seus sentimentos e desejos.

A verdade é que desde a infância somos bombardeados com uma enxurrada de slogans do tipo: “ouça a sua voz interior, siga o seu coração, seja verdadeiro consigo mesmo, confie em você mesmo, faça o que achar que é bom para você”. Foi Rousseau, em seu romance Emília, a bíblia do sentimento do século XVIII, quem disse: “Ao buscar as regras de conduta na vida, eu as encontrei nas profundezas de meu coração, traçadas pela natureza em caracteres que ninguém pode apagar, por isso só preciso consultar a mim mesmo a respeito do que quero fazer; o que sinto que é bom, é bom; o que sinto que é ruim, é ruim”. Eis o resumo da religião humanista.

Assim, quando uma mulher deixa seu marido em casa e se lança nos braços de outro, a única coisa que importa é como a mulher se sente em relação ao que aconteceu. Nos recônditos mais secretos do coração, lá e somente lá, ela encontrará as respostas. Mas, espere um instante, e se o marido descobrir? E se isso levar ao divórcio? Não poderão seus filhos carregar durante toda a vida as cicatrizes emocionais? Será que a satisfação dos amantes é a palavra final para determinar a conduta, sem levar em conta os sentimentos devastadores do cônjuge e dos filhos?

Assim, quando dois homens adultos ou duas mulheres adultas apreciam ter relações sexuais um com o outro, por que deveria ser errado e por que fazê-lo é ilegal? Se o sentimento é a regra final que determina o certo e o errado, e ambos confessam que estão apaixonados, logo estão livres para cumprir a máxima do humanismo: “Se é bom para vocês, façam isso”!

Assim, se um homem entra em uma loja, onde um grupo de pessoas se diverte, e descarrega sua arma em um deles, despedaçando seus pulmões, coração e entranhas, então se volta para outro e envia nova rajada de balas rasgando sua carne e dizendo que sentiu uma voz interior lhe dizer que deveria fazê-lo para sua autossatisfação, por que, então, não fazê-lo? Não seria isso onde a máxima humanista nos conduziria? Não é esta a ética humanista propagada aos quatro ventos: “Se lhe parece bom, faça-o”?

Assim como na ética, na estética o humanismo desfia o mesmo cordão de contas: “a beleza está nos olhos do observador”. Isso significa dizer que hoje a religião humanista acredita que a única fonte de criação artística e de valor estético são os sentimentos humanos, onde a própria definição de arte foi descaracterizada, e agora está em aberto. Um urinol comum, desses que se fabricam em série, foi aclamado como “arte” desde que Marcel Duchamp assinou seu nome embaixo de um deles e o chamou de Fonte, expondo-o num museu em Paris em 1917. Em tempos mais saudáveis e não muito distantes, ninguém sequer se daria ao trabalho de discutir a questão, tamanho seu disparate. Porém, na religião humanista, sua “obra” é considerada um marco artístico importante. Parece inverossímil, mas há quem adore um urinol! Para tais, arte é qualquer coisa que pessoas acreditem que é arte, e a beleza está nos olhos do espectador. Se as pessoas acham que um urinol é uma bela obra de arte, ou um homem urinando sobre outro de cócoras, pintado de preto, ou uma criança tocando o corpo de um homem nu estirado no chão é arte – então ele é!

Assim, a religião humanista concedeu ao homem um poder sem precedentes, tornando-o o centro, o significado e a regra áurea do mundo que o cerca. Dele, por meio dele e para ele são todas as coisas! Mas, a que preço? Obedecer a esse poder assustador resulta fatalmente em um mundo sombrio, destituído de ética, estética e compaixão; ou seja, destituído de bondade, de beleza e de fraternidade. Quando o objeto de nossa fé é deslocado de Deus para o homem, como promulga a religião humanista, então se abrem todas as comportas que outrora represavam um terrível e aniquilador mal, o pecado em seu estado mais vil. E a fúria e o poder destas águas nos afogarão na maldade, na feiúra e no egoísmo. Se é que já não estamos a nos debater... (Luciano Rocha)

 

Luciano Rocha Guimarães


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