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Noroeste Revista - Visita ao túmulo de Evita Perón no Cemitério da Recoleta: um encontro com a história argentina


Por: Alex Fernandes França
Data: 08/03/2024
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Evita Perón: Sua fascinante jornada registrada nesta pauta especial para a Noroeste Revista

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Buenos Aires, Argentina – O Cemitério da Recoleta, um lugar que à primeira vista pode parecer um destino inusitado para turistas, é na realidade um dos mais ilustres e visitados cemitérios do mundo. Localizado em um bairro tradicionalmente elitizado da capital argentina, sua arquitetura rica e imponente atrai visitantes de todas as partes em busca de história, arte e cultura.

O Cemitério da Recoleta é um verdadeiro museu ao ar livre, com mais de 4.000 abóbadas e mausoléus de mármore, alguns dos quais exibem estátuas impressionantes, anjos, elementos de arquitetura gótica e traços do estilo Art Deco que marcaram o início do século XIX, quando o cemitério foi inaugurado em 1822. O cemitério está situado no pátio atrás da majestosa Igreja Nuestra Señora del Pilar, classificada como Monumento Histórico Nacional. Localiza-se na Praça Intendente Torcuato de Alvear, em pleno bairro da Recoleta, uma área movimentada sempre repleta de visitantes.

Colagem com diferentes imagens de Evita Perón (1919-1952) (Foto: Divulgação/Domínio público)

Ao longo de sua história, o Cemitério da Recoleta passou por duas grandes reformas, em 1881 e 2003, que são devidamente registradas em pedras na entrada. Sua concepção foi obra do engenheiro e arquiteto francês Prosper Catelin, inspirado pelo famoso cemitério parisiense Pére Lachaise.

No entanto, o túmulo mais visitado e emblemático, aquele que atrai a maior parte dos visitantes, é o de Eva Duarte de Perón, carinhosamente conhecida como Evita Perón. Evita, como ficou imortalizada na história, foi a esposa do líder argentino Juan Domingo Perón e uma figura icônica na política e na cultura argentina.

A história de Eva Perón é fascinante e repleta de altos e baixos. Ela faleceu em 1952, vítima de um câncer de útero agressivo, deixando um legado que transcende sua breve vida. Após sua morte, seu corpo foi embalsamado a pedido de seu marido, Juan Perón, para permitir que o povo argentino se despedisse dela com calma. No entanto, dois anos depois, Juan Perón perdeu o poder, e os militares, temerosos de que Evita se tornasse ainda mais venerada, decidiram levar seu corpo para ser enterrado na Itália sob um nome falso.

Somente em 1976, quando a turbulência política se acalmou na Argentina, o corpo de Evita foi finalmente repatriado e sepultado no mausoléu da família Duarte, no Cemitério da Recoleta, onde repousa até os dias de hoje. Este ato marcou o descanso final de uma das figuras mais queridas e ilustres da história argentina.

O túmulo de Evita, localizado na quadra C-7, número 88, é um local de peregrinação constante. À primeira vista, ele pode parecer simples quando comparado a outros mausoléus extravagantes do cemitério, mas é marcado pela abundância de flores que os visitantes e admiradores depositam em sua porta. Inúmeras placas nas laterais do mausoléu homenageiam a mulher que encantou o povo argentino com seus discursos ao lado de seu marido.

O Cemitério da Recoleta é também um lugar onde curiosidades peculiares e lendas urbanas se entrelaçam com a história. Os caixões visíveis em muitos túmulos intrigam os visitantes, deixando-os questionando se os restos mortais estão dentro ou se esses caixões são meramente ilustrativos.

O túmulo mais frequentado no cemitério atrai visitantes principalmente por um motivo singular: Eva Duarte de Perón, carinhosamente conhecida como Evita Perón, a esposa do líder Juan Domingo Perón. Sua vida chegou a um trágico fim em 1952, quando ela sucumbiu a um câncer de útero altamente agressivo. Além de ser reverenciada como um ícone pelo povo argentino, a morte de Evita gerou contos e lendas. Seu marido, atendendo a um desejo popular, optou por embalsamar seu corpo, permitindo que as pessoas pudessem se despedir dela sem pressa. (Foto: Alex Fernandes França)

Para os interessados em mergulhar mais fundo na rica história deste local, há a opção de participar de um tour guiado que ocorre diariamente às 15h, partindo da entrada principal. Embora não tenhamos feito esse tour, relatos afirmam que é uma experiência cativante, repleta de histórias e lendas que envolvem os ilustres ocupantes do cemitério.

Além do túmulo de Evita Perón, o Cemitério da Recoleta é o local de descanso final para 19 presidentes argentinos, 2 ganhadores do Prêmio Nobel, escultores, artistas e escritores renomados. É uma escolha tradicional para famílias de celebridades, apesar de sua localização em uma região refinada e badalada da cidade.

Os arredores do cemitério são igualmente vibrantes, com muitos bares, restaurantes, teatros e shoppings, além de prédios residenciais, hotéis e um comércio diversificado que compõem o bairro da Recoleta. O local é um testemunho vivo da história argentina e do papel de Evita Perón como ícone político e cultural.

Biografia de Eva Perón

Eva Perón (1919-1952) foi a primeira-dama da Argentina durante o primeiro mandato do presidente Juan Domingo Perón, e sua influência e legado transcendem as fronteiras da Argentina. Nascida como Eva Duarte de Perón em Los Toldos, província de Buenos Aires, Argentina, em 7 de maio de 1919, ela era filha de Juan Duarte, um proprietário de terras, e Juana Ibarguren, uma costureira.

Eva enfrentou desafios desde tenra idade, pois seu pai faleceu em um acidente de carro quando ela tinha apenas cinco anos de idade. Dos cinco filhos do casal, Eva foi a única a não ser legalmente reconhecida por seu pai. Determinada a buscar uma vida além de sua cidade natal, Eva se mudou para Buenos Aires aos 15 anos, deixando para trás sua vida pacata no interior em busca do sonho de se tornar atriz.

Após uma busca por trabalho em teatros, Eva conseguiu pequenos papéis em novelas de rádio, estampou capas de revistas e, com apenas 16 anos, já era uma atriz popular. Em 1944, a Argentina estava imersa em um clima político turbulento devido a um golpe militar ocorrido no ano anterior. Foi durante um evento de angariação de fund os para as vítimas de um terremoto que ocorreu na cidade de San Juan que Eva conheceu o coronel Juan Domingo Perón. Na época, Perón era Ministro da Guerra e Chefe da Secretaria de Trabalho e Previdência do governo, e sua política em prol dos trabalhadores chamou a atenção de Eva. Rapidamente, um relacionamento floresceu entre eles, e em 1945, já estavam morando juntos.

A ascensão meteórica de Perón na política argentina não passou despercebida pelos opositores, que temiam que ele se transformasse em um ditador fascista. Em outubro de 1945, Perón foi detido por ordem do então presidente Edelmiro Farrell, o que provocou uma revolta popular. Foi nesse momento que Eva Perón iniciou uma campanha de mobilização social que culminou no famoso "17 de outubro," quando milhares de trabalhadores, que ela chamou de "descamisados," ocuparam o centro de Buenos Aires para exigir a libertação de Perón.

Eva Duarte e Juan Domingo Perón se tornaram um dos casais mais famosos da Argentina, apesar da diferença de idade notável, com Eva tendo apenas 24 anos e Perón 48. Eles se conheceram em 1944 (Foto: Divulgação)

A libertação de Perón ocorreu dois dias depois, e em 26 de outubro de 1945, o casal se casou. Evita, como era carinhosamente chamada, tornou-se não apenas a companheira de Perón na vida pessoal, mas também na política, desempenhando um papel de destaque no movimento peronista.

Com uma campanha política bem-sucedida, Juan Domingo Perón foi eleito presidente em fevereiro de 1946, com o apoio maciço dos trabalhadores e dos principais sindicatos do país. Nesse momento, Evita assumiu a Secretaria do Trabalho, onde realizou ações fundamentais para garantir os direitos dos trabalhadores e a proteção das crianças, dos idosos e das mulheres em situação de risco. Em 1948, ela fundou a Fundação Eva Perón, cujo objetivo era fornecer assistência às pessoas necessitadas, e ela se dedicou integralmente a esse trabalho.

A popularidade de Eva Perón cresceu rapidamente, e sua preocupação com a situação das mulheres a levou a fundar, em 1949, o "Partido Peronista Feminino" e a promover medidas para a melhor integração das mulheres no mercado de trabalho. Graças às suas ações, os trabalhadores e os setores marginalizados conquistaram melhores condições de vida.

Paralelamente a essas atividades políticas e sociais, Evita tornou-se proprietária da maioria das emissoras de rádio e jornais da Argentina. Em 1951, ela determinou o fechamento de cerca de 100 jornais e revistas, incluindo a La Prensa, um dos principais jornais do país. Também proibiu a circulação de jornais estrangeiros, como Time, Newsweek e Life.

Infelizmente, a vida de Evita foi interrompida de maneira trágica e prematura. Em 1951, o mesmo ano em que publicou sua autobiografia "A Razão de Minha Vida," a Confederação Geral do Trabalho a indicou como vice-presidente da República. No entanto, Evita se recusou a aceitar cargos públicos, acreditando que a eficácia de seu trabalho estava em sua proximidade com o povo.

No auge de sua popularidade, Evita foi diagnosticada com um câncer de útero devastador. Ela buscou tratamento médico, mas não conseguiu vencer a doença, falecendo em 26 de julho de 1952, com apenas 33 anos de idade. Seu corpo foi embalsamado, e durante os 13 dias seguintes, foi velado por cerca de 2 milhões de admiradores, que formaram filas intermináveis além das 30 quadras em torno do Ministério do Trabalho. Na fachada do prédio, acumularam-se mais de 18 mil coroas de flores, testemunhando o amor e devoção do povo argentino por Evita.

No entanto, a história de Evita não terminou aí. Três anos após sua morte, durante a presidência de Isabel Martínez de Perón, a terceira esposa de Juan Perón, os militares tomaram o poder na Argentina e decidiram ocultar o corpo de Evita para evitar que ela se tornasse um objeto de culto peronista. Seu corpo foi levado para a Itália e, posteriormente, para a Espanha, onde Juan Perón estava exilado.

Somente em 17 de novembro de 1974, o corpo de Evita retornou para Buenos Aires, encerrando uma saga de décadas. Após ser exposto na Casa Rosada, seu local de descanso final foi finalmente estabelecido no Cemitério da Recoleta, onde continua a atrair um grande número de curiosos e admiradores.

A história de Eva Perón é uma saga de dedicação aos necessitados, luta pelos direitos trabalhistas e impacto duradouro na política e na cultura argentina. Seu túmulo no Cemitério da Recoleta serve como um memorial perpétuo e um lembrete da influência inegável que Evita exerceu sobre o povo argentino e o mundo.


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