Quando os extremismos dominam as diversas áreas da dimensão existencial humana, as consequências são bastante danosas, como demonstraram e demonstram os eventos de barbárie e violência em nossa história. Em pleno século XXI, quando nos arrogamos de um potencial tecnocientífico assustador, a barbárie da guerra e da intolerância persistem. As irreflexões ideológicas e políticas, tomam cada vez mais espaço, sufocando as tentativas de reflexão e debate. Os medos e temores são propalados de tal modo, que passamos a odiar e repudiar até mesmo o belo, o genial e o sublime como no campo das artes.

Enquanto escrevo mais esta exposição de ideias, encontro-me espantado e assustado com uma notícia publicada em um jornal português conhecido: “a decisão por parte de uma importante universidade italiana em cancelar um curso sobre a obra do autor russo Dostoiévski”. Aparentemente, algo sem muito motivo para reflexão ou causar algum tipo de incômodo, mas vejamos então: deve-se repudiar e mesmo odiar, a obra de um gênio da literatura universal, devido a sua nacionalidade? Vamos então queimar todos os seus livros, por causa do conflito atual que envolve seu país? Já vimos essas ações extremas e irrefletidas em outras situações históricas que foram marcadas pela violência do extremismo e a ausência total de irreflexão.

Em tempos de guerra, revelamos o que há de mais bárbaro em nossa essência. Esta condição se torna acirrada ao nos entregarmos aos ódios nacionalistas e ideológicos ou atuarmos de forma irrefletida perante os desafios da barbárie, que pode nos levar a cometer mais atos de barbárie, como cancelar um curso referente a um escritor russo que certamente seria contrário as ações de quem comanda sua terra natal na atualidade. Os extremismos e as ações irrefletidas direcionadas a simplesmente agredir ou responder a agressões, por ódios ou rancores históricos, só alimentam guerras como a da Ucrânia, Síria, Iêmen e outras, acarretando inclusive a se guerrear contra um gênio da literatura universal do século XIX, que em seus escritos nos desafia a refletir a respeito da barbárie e dos absurdos das ações humanas.