Algo que se esgota, comumente é apontado como alguma coisa que simplesmente acaba. Contudo, ao se indicar que o acontecimento da pandemia da Covid-19, acarretaria o fim da Modernidade, aparenta ser de uma conotação bastante drástica. Quase alarmista.  Para muitos, algo inclusive inacreditável.

Porém, penso que o acontecimento da pandemia apenas desvela de modo intenso, a crise da base de valores do projeto de Modernidade, que já se encontrava abalado desde eventos como as duas grandes guerras e atualmente, demonstram-se quase que abandonados.

A percepção própria do Iluminismo moderno, que apregoava o poder emancipador da razão como essencial para o amadurecimento da humanidade, dilui-se de certo modo, devido ao crescimento das posições irracionalistas questionam a razão tanto no campo ético, político e científico.

O potencial científico, enquanto elemento de progresso social, encontra-se extremamente combatido por posições retrógradas e perigosas. Os Negacionismos que se expressam neste contexto da Covid-19, não são meras posturas de ceticismo ou criticismo, mas atitudes de negar a realidade, para colocar criações conspiratórias e fantasias ideológicas no lugar.

Como fica o tão propalado princípio de Autonomia nesta situação? Em uma situação muito complicada, pois como de fato podemos nos tronar autônomos, se cada vez mais nos encontramos presos a achismos, a pseudociência, ao extremismo e ao irracionalismo.

Obviamente, que a Modernidade e mais propriamente, a sua herança iluminista encontra- se faz muito tempo sob críticas e ceticismos. Penso, entretanto, que a pandemia revela o grau de esgotamento que o projeto de modernidade vem sofrendo. Contudo, deve-se ter cuidado para que este esgotamento não se transforme literalmente em obscurantismos incontornáveis ou niilismos insuperáveis, alimentando diferentes tipos de fanatismos e nacionalismos atrozes, que revelam suas faces em nosso momento pandêmico.