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Raízes do Brasil: mudar é preciso!


Por: Alex Fernandes França
Data: 15/01/2019
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Sem dúvidas as décadas de 20 e 30 foram, no Brasil, períodos de grande produção intelectual e artística. Creio que tenha sido ali a nossa verdadeira descoberta como povo. Nossa identidade foi sendo esculpida, ou melhor, desvendada. Descobrimo-nos não apenas no campo da literatura como na história e nas ciências sociais, mais tarde Sociologia. O historiador brasileiro Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1982), pai do Chico que leva o mesmo sobrenome, em sua mais famosa obra intitulada Raízes do Brasil, publicada no ano de 1936, pela editora José Olympio, explora o conceito do “homem cordial” e desenvolve com maestria sua ideia, sendo a obra alvo de estudos sociológicos, pois este conceito de homem cordial está longe de ser uma virtude. Remete às raízes patriarcais do período colonial brasileiro e dita as influências e padrões do convívio humano.  O que era uma forma natural e viva, a olhos rasos até benéfica, infelizmente se transformou em fórmula. 

Em suas palavras acerca do Homem Cordial, Sérgio Buarque de Holanda diz acerca da cordialidade:

“Ela pode iludir na aparência – e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que são espontâneas no 'homem cordial': é a forma natural e viva que se converteu em fórmula. Além disso, a polidez é de algum modo, organização da defesa ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica, do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada qual preservar inatas suas sensibilidades e suas emoções.” 

 O termo cordial empregado por Holanda remete etimologicamente ao pensamento ‘d’aquele que age pelo coração”. Nesta atitude polida, de agir “cordialmente” implícita está a fórmula de querer agradar a tudo e todos para da política, nosso tema, para se valer de suas inúmeras benesses. 

 Com o uso da máscara, o ser cordial consegue adquirir e perpetuar uma supremacia ante o interesse social. O particular sobrepujando aquilo que seria a razão deste ocupar, por exemplo, uma função pública. Creio que daí surgiu o tal “jeitinho brasileiro”,  décadas mais tarde sacramentado pela “Lei” de Gérson, que ficou nacionalmente  conhecida pelo ex-jogador da seleção brasileira, campeão da Copa de 70,  que fazia publicidade para a marca de cigarros “Vila Rica” onde ele dizia: “quem fuma Vila Rica leva vantagem em tudo”.  

E o querer levar vantagem em tudo infelizmente virou marca nacional. Nem sei se tal cigarro ainda existe. Mas seu slogan corroborou ainda mais para fortalecer aquilo que já era intrínseco no brasileiro e debatido em Raízes do Brasil, que é o retrato da nossa gente!

Impera a grande dificuldade dos indivíduos diferenciarem as instâncias públicas e privadas, sobretudo Estado, família e sociedade, ou seja, o íntimo, familiar e privado, na percepção deste ‘homem cordial’ se misturam. As dificuldades em se fazer gestão pública no país é pontuada nesta análise sociológica da obra Raízes do Brasil. 

Beira o dogmático achar que ao ingressar ao Poder Público a premissa é dele se aproveitar. Os juízos éticos e morais não se encaixam a este padrão de cordialidade. Não restam dúvidas de que “o homem cordial” é uma ferramenta, tentativa ardilosa com desdobramentos na forma de comportar-se, enraizada esta na nossa formação como povo.  Em resumo, é o jeitinho brasileiro, expressão que ganharia vida a partir deste homem cordial. Urge reagir!

Alex Fernandes França


Anuncie com Jornal Noroeste
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