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A Automutilação Entre Crianças e Adolescentes


Por: Emerson Branco
Data: 29/03/2019
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A automutilação pode ser definida como um comportamento intencional no qual um indivíduo causa agressões em seu próprio corpo sem a intenção de cometer suicídio. De modo geral, essa prática costuma ser repetitiva, e tem se tornado comum, principalmente entre os adolescentes.

Jackeline Suzie Giusti, psiquiatra assistente no Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade de São Paulo, em sua tese de doutorado, “Automutilação: características clínicas e comparação com pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo”, afirma que é frequente o uso de mais de um método de automutilação, sendo os mais frequentes: cortes superficiais na pele, cabelos arrancados, unhas e pontas dos dedos “comidos”, queimaduras, arranhões, mordidas, bater partes do corpo contra parede ou objetos, cutucar ferimentos causando sangramentos, entre outros. 

Segundo Giusti, as partes do corpo mais atingidas são braços, pernas, peitos e outras áreas na parte frontal de acesso mais fácil. Para autora, a automutilação é precedida por um aumento de tensão, raiva de si mesmo, ansiedade, depressão e sensação de perda de controle. 

Há vários fatores que podem desencadear esse comportamento, dentre eles: a rejeição, o abandono, a culpa, o vazio interior, a falta de perspectiva na vida, o isolamento e o bullying. De acordo com os depoimentos de pessoas que realizaram, ou que ainda se encontram nessa situação, a automutilação é considerada por elas uma forma de aliviar a dor emocional e a crise existencial, trazendo um certo “alívio” e “sensação de bem-estar”. Contudo, esses sentimentos são momentâneos e incapazes de resolver o problema ou situação que desencadeou essa prática nociva.  

Cabe frisar que é muito comum crianças e adolescentes que se automutilam usarem camisas de manga longa, calças compridas e até mesmo blusas de frio, inclusive em estações quentes como o verão para esconder os sinais dessa prática. É importante destacar também que, na maioria das vezes, a automutilação é realizada de forma silenciosa, e em muitos casos, as famílias demoram a perceber e a procurar ajuda profissional. 

Nesse sentido, cabe frisar que as famílias devem ficar atentas aos possíveis comportamentos estranhos como: isolamento, irritação ou tristeza constante, uso de roupas impróprias para os dias quentes, marcas anormais pelo corpo, entre outros. Todavia é importante acompanhar os conteúdos aos quais os filhos têm acesso, seja em sites da internet, TV ou serviços de streaming, uma vez que há inúmeros relatos, vídeos, filmes e séries que podem influenciar à automutilação. 

Além disso, uma vez identificado essa prática é fundamental que os pais/responsáveis não busquem resolver a situação brigando ou apenas reprendendo seus filhos, ou classificando a situação como uma mera “frescura”, o que pode agravar ainda mais o caso, podendo inclusive levar a uma tentativa de suicídio. Assim, devem buscar ajuda profissional, seja de forma direta ou por meio da Rede de Proteção à Crianças, Adolescentes e Jovens de seu município que poderá fazer o encaminhamento necessário. Conversar com professores, equipe pedagógica e direção escolar para informar sobre a situação é também uma importante ação. 

Convém observar que, a automutilação pode ser um sintoma decorrente de problemas atuais ainda mais graves, nos quais a sociedade vem constantemente imergindo, como a depressão, síndrome do pânico e tendências suicidas. Problemas esses desencadeados por um estilo de vida contemporâneo com sobrecarga de responsabilidades, que leva à competição extrema por condições financeiras melhores, ao individualismo, à desvalorização dos laços afetivos e familiares, à falta de respeito e amor ao próximo, assim como à falta de amor e temor a Deus. 

Se por um lado são inúmeras as causas que levam à automutilação e sua identificação nem sempre é fácil, por outro é notório que ela merece atenção e necessita de tratamento especializado. Ademais, não é difícil perceber que as relações sociais e familiares vêm se tornando cada vez mais complexas, contudo parece estar evidente que para se ter uma vida menos conflituosa e crianças e adolescentes mais distantes de práticas como a automutilação é necessário repensar o convívio em sociedade, valorizando as relações familiares, o diálogo, o respeito mútuo e o amor a vida. 

Emerson Branco


Anuncie com Jornal Noroeste
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