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Uncharted — Fora do Mapa


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 17/02/2022
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Semana de luto para o cinema nacional. Mas, que fique claro que, o luto é para o cinema e não para o brasileiro de forma geral. Na terça-feira, 15 de fevereiro, o Brasil perdeu um de seus mais ilustres cineastas, Arnaldo Jabor. Grande representante do chamado “Cinema Novo”, sempre foi um profissional comprometido com a verdade. Em 1967 chamou a atenção de muitos ao lançar o documentário Opinião Pública em que escancarava a ignorância política, sobretudo da classe média. Já nos anos 1970, Jabor passou a ser reconhecido como grande exponencial do cinema brasileiro. Em 1973, ele levou o Urso de Prata no Festival de Berlim pelo filme Toda Nudez Será Castigada, um drama adaptado da obra de Nelson Rodrigues.

Toda Nudez Será Castigada é uma excelente fonte histórica do Brasil do início dos anos 1970. Retrata uma sociedade urbanizada, militarizada e decadente no final do ingrato “milagre econômico” da ditadura, que tornou o país dependente do petróleo justo no momento em que o mundo mergulhava numa grande crise desse bem , extremamente desigual e altamente endividado no exterior. Não por nada, o premiado filme de Jabor trazia uma trama que criticava de forma deliciosa, por meio de um indigesto triangulo amoroso, a moral e os bons costumes da tal nação militarizada. Uma obra de arte que distribuía tapas com luva de pelica na cara da burguesia, dos militares e do cidadão de bem. Passou, a ditadura caiu nos anos 1980 e, com ela, boa parte das máscaras da hipocrisia social. O filme ficou esquecido. Após Toda Nudez Será Castigada, Jabor ainda alcançou a glória com outros excelentes filmes, dentre eles Eu te Amo, de 1980, e Eu Sei Que Vou Te Amar, de 1986, que rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes a Fernanda Torres.

Despois do assassinato do cinema brasileiro na breve e tempestiva “Era Collor” nos anos 1990, Jabor deixou de ser visto como cineasta e passou a ser lembrado como jornalista, mais tarde como colunista. Dono de um intelecto invejável usava as palavras como arma e fazia seu interlocutor pensar, quisesse ele ou não! Ácido, estava sempre pronto para provocar e sua provocação sempre gerava catarse. Quando passou a ostentar a sua opinião na TV aberta sobre os mais variados assuntos, dividiu o público. Em geral, muita gente não gostava de seu tom e sua irreverência. Bem por isso, por mais que muita gente sempre prestasse atenção quando aquele velho descabelado aparecia na televisão, no final, infelizmente, muitas pessoas manifestavam insatisfação (digo isso a partir da minha experiência particular, algo que presenciei mais de uma vez e que ouvi de várias pessoas, fossem da família ou não). Com isso percebemos que ter opinião e verbalizá-la, por si só, não é algo que agrade a todos, mas que é sempre muito necessário. Essa semana, a Sétima Arte no Brasil ficou culturalmente mais pobre. O cinema está de luto, mas nem todos os brasileiros partilham desse sentimento.

Homenagem feita ao grande cineasta, vamos falar de lançamento. Chegou ontem aos cinemas brasileiros a nova investida da Sony para se manter dentre os grandes estúdios cinematográficos, Uncharted — Fora do Mapa. O filme é fruto da união da Sony Pictures e da PlayStation e ressuscita uma polêmica recorrente do mundo do entretenimento: é possível fazer um filme baseado num jogo e que seja bom?

Muitos tentaram e poucos foram bem-sucedidos. Isso porque nessa seara, ou você agrada ao público e desperta o ódio dos críticos, ou vice-versa. De antemão eu já te aviso que Uncharted — Fora do Mapa optou pela primeira opção. O diretor Ruben Fleischer buscou fazer um filme que atendesse especificamente as expectativas dos fãs, sem dar nenhum passo fora da trilha já estabelecida. Ele poderia ter ousado mais, mas preferiu seguir com prudência. Quando analisamos a lista de fracassos baseados em games, entendemos porque Fleischer foi bem comedido. Por exemplo, das grandes expectativas para criação de novas franquias baseadas em jogos tivemos Tomb Raider e Final Fantasy, nos anos 2000, e mais recentemente Assassin’s Creed e Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos, ambos de 2016 e todos os quatro são grandiosos fracassos. Isso só para citar alguns.

Quando o assunto são filmes baseados em jogos, o público é muito exigente e, na maioria das vezes, desejam o ritmo, a trama e as referências aos quais já estão acostumados. Como são duas formas distintas de entretenimento, dificilmente elas se encaixam, salvo situações em que a direção ousadamente sai da linha pontilhada e agrada a todos, como foi caso do Tomb Raider: A Origem, de 2018 (aquele com a Alicia Vikander, não com a Angelina Jolie).

Fleischer fez a lição de casa, seu filme tem ótimas reviravoltas, um bom ritmo, muitos easter eggs e um elenco de estrelas. Mas, tecnicamente falando é sofrível e ele sabe disso. Para manter um ritmo mais parecido com o do jogo, as coisas são jogadas na tela, não há desenvolvimento de personagens ou resolução de problemas, tudo é muito ágil. O trabalho de montagem não agrada em nada e desfavorece principalmente as cenas de luta. Além disso, pesaram a mão no CG e por isso muita coisa é simplesmente artificial.

O roteiro foi construído a seis mãos por Rafe Judkins, Matt Holloway e Art Marcum e segue o mesmo caminho da direção, tem tudo o que um filme de ação precisa e nada mais. Uma dupla de atores que aparentemente são completamente diferentes em seus aspectos, um pouco de piadinhas com deboche e, é claro, muita ação. A dupla de atores é formada pela atual galinha dos ovos de ouro da Sony, Tom Holland, e pelo veterano Mark Wahlberg. No começo você terá a impressão que não há química entre os dois, mas logo irá se acostumar. Além deles, Antonio Banderas também é um grande destaque no filme, pena que tenha tão pouco tempo em cena. Vamos à trama!

Uncharted — Fora do Mapa serve como prequela para os jogos. A história traz o jovem explorador Nathan Drake em sua primeira aventura de caça ao tesouro com o sagaz parceiro Victor Sullivan. Os dois partem em uma perigosa busca pelo "maior tesouro nunca encontrado", na cidade sul americana de El Dorado. Essa aventura acaba se estendendo por todo o mundo, enquanto rastreiam pistas que podem levar ao irmão perdido de Nathan. No desenrolar de tudo isso, eles serão perseguidos por um grupo de mercenários que também estão em busca pelo tesouro perdido.

Por que ver esse filme? A crítica internacional já está malhando Uncharted — Fora do Mapa, mas, mesmo assim, a obra cumpre completamente o que se propôs a ser. Como filme baseado em game, ele atende a todas as necessidades dos fãs. Como filme de ação, é empolgante, divertido e com reviravoltas na medida certa para deixar todos surpresos sempre que possível. Ao final, você ficará certamente esperando uma sequência para esse filme. Vamos torcer para que o desempenho dele seja bom nas bilheterias, pois dessa forma, em breve, teremos uma continuação. Fique atento ao final, porque tem cena pós créditos escondida. Boa sessão!

Assista ao trailer:

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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