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Sétima Arte - EMMA


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 14/08/2020
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Com a escassez de novidades no streaming, essa semana resolvi comentar sobre um filme que foi lançado diretamente nas plataformas de vídeo on demand por conta da pandemia de corona vírus. Isso quer dizer que caso você queira assisti-lo pela sua TV por assinatura, terá que desembolsar uma pequena quantia, mas com certeza isso vale a pena. Provando que a obra da célebre autora inglesa Jane Austen continua mais pop do que nunca, essa semana vou me dedicar a comentar sobre a nova versão de Emma., na Coluna Sétima Arte.

“Emma Woodhouse, bela, inteligente e rica...” assim começa o filme em questão. Essa descrição pode ser resumida como o sonho de qualquer adolescente em qualquer momento da história, mas ter tais atributos não exime a protagonista das situações cotidianas de sofrimento que a vida impõe e que, cá entre nós, na maioria das vezes, são resultado das próprias ações. Emma, nessa versão cinematográfica do romance publicado em 1815, irá aprender que a vida é mais complicada do que vestidos, festas e casamentos.

A história já é uma velha conhecida do entretenimento. Teve uma versão moderna com Patricinhas de Beverly Hills, 1995, depois ganhou um formato mais clássico e adocicado, protagonizado por Gwyneth Paltrow, em 1996 e, por fim, em 2009 virou série pela rede britânica de televisão BBC. Ela também teve sua versão abrasileirada numa recente novela baseada no conjunto da obra de Jane Austen e veiculada pela TV Globo há um tempo. Agora, Emma está de volta em sua variante mais humanizada e, bem por isso, mais interessante do que as anteriores.

Digo isso porque é difícil gostar de uma protagonista tão perfeitinha. Dona dos atributos acima citados, sua vida, aparentemente, não tem preocupações e se baseia em frivolidades. É nesse ponto que essa nova versão acerta em cheio. A diretora estreante Autumn de Wilde construiu a personagem de Emma de maneira completamente fiel à obra original de Austen, mas, ao mesmo tempo, tornou-a completamente envolvente. Isso se deu pelo fato da diretora ter escancarado sem medo todos os defeitos de Emma na tela.

Emma é teimosa, arrogante, tem um fascinante ar de superioridade e se impõe tanto quanto sua posição social a permite. Características extremamente humanas e que assombram vez ou outra, consciente ou inconscientemente, a toda e qualquer pessoa (que o diga o Brasil da atualidade, onde a cada semana, nas redes sociais, um novo “cidadão” é flagrado tentando se impor como um ser superior sobre alguém, dito “inferior”, em nossa sociedade) e, bem por isso, acabam fazendo dela uma protagonista muito interessante, pois por vezes você desejará vê-la sofrer.

Nesse aspecto, quem redime o expectador é a personagem de Johnny Flynn, o galante vizinho e irmão do cunhado de Emma. Por mais de uma vez ele lava a alma do público ao expor de maneira muito límpida tudo o que Emma faz e que é, no mínimo, desagradável. Mais interessante ainda é como tudo isso tem efeito sobre ela, ajudando-a a se tornar alguém melhor. Por isso, esse filme é uma história de redenção para sua protagonista, distanciando-se do livro original e alterando parte da trama. Outro aspecto interessante é mostrar a nobreza inglesa por detrás das portas. A diretora reproduz em seu filme o leve tom de comédia da obra original e apresenta a vulnerabilidade de seus personagens, seja ao introduzir o galante mocinho da história de maneira vulnerável devido à nudez, ou ao evidenciar a protagonista quando levanta a parte traseira do vestido para esquentar suas partes de trás num dia frio. Coisas simples, inimagináveis para a alta nobreza, mas que dão um tom de comédia muito sofisticado à obra ao serem reveladas.

Outro aspecto que não tem como deixar de lado é o trabalho perfeito de fotografia, bem como a atmosfera incrível construída em torno da trama. Ao assistir esse filme é quase impossível não fazer um exercício de comparação entre a Inglaterra rural do início do século XIX apresentada nele e a França monárquica do final do século XVIII retratada na obra Maria Antonieta, de Sofia Coppola, de 2006. Ambas as reconstruções de época têm um quê extremamente pop, desde as cores, os jardins, até os figurinos e locações, um vislumbre para os olhos. Além disso, a trilha sonora de Emma. é uma mistura entre canções folclóricas e outras muito sutis compostas para o filme e que enriquecem a obra.

Com tantos pontos positivos, não se poderia esperar menos do elenco de estrelas. O papel principal ficou sob a responsabilidade de uma das melhores atrizes dessa nova leva, Anya Taylor-Joy, que esbanja presença e versatilidade. Como já dito anteriormente Johnny Flynn, que não é tão conhecido por aqui, demonstra todo o seu talento e comprometimento. Além deles, o elenco conta ainda com uma grande quantidade de celebridades britânicas de séries e filmes de sucessos como Sex Education, The Crown, Animais Fantásticos e Game of Thrones, são eles Josh O’Connor, Mia Goth, Gemma Whelan, Callum Turner, Connor Swindells e Tanya Reynolds.

Vamos à trama! Emma Woodhouse é uma jovem rica e inteligente, que não tem pretensões de se casar tão cedo para ficar sempre perto do pai. Porém, isso não a impede de dar uma de 'casamenteira', tentando juntar casais que considere apropriados entre seus conhecidos, sem perceber os problemas causados com sua imaginação e teimosia.

Por que ver esse filme? Por que ele é moderno sem deixar de ser clássico, além de altamente refinado. Um filme que, mesmo inserido num contexto histórico muito distinto, é extremamente atual. Uma obra que descontrói o estigma de que uma protagonista feminina deve ser perfeita e impecável. Em tempos de “girl power”, Emma. demonstra que qualquer um está suscetível a erros e que se redimir é o melhor caminho para um final feliz. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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