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Uma ode ao “amontoado de palavras” – “Dom Quixote”, de Felipe Figueira


Por: Especial para JN
Data: 11/10/2021
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Por Maycon Klem

Acadêmico de Química no IFPR campus Paranavaí

Poesia nunca foi meu gênero literário favorito, prefiro Gabriel García e Poe. Não via sentido nas palavras, era como um amontoado de letras que nós passamos os olhos. Estava eu, em uma sexta chuvosa acompanhando uma live sobre leitura e escrita, quando o autor sorteou seu livro de poesias “Dom Quixote”, e eu ganhei, sim, eu ganhei mais que um amontoado de palavras.

Como raramente leio poesia e não me sinto na condição de julgar, decidi que uma poesia boa para mim seria aquela que eu lesse e parasse por um tempo para refletir, para sentir, ou seja lá o que eu esperava que fosse acontecer. E eis que o momento intempestivo chegou, na poesia XI, 195 letras e 52 palavras, que li pausadamente, como quem desfruta de uma boa refeição, e eu li sem expectativas, assim como estava lendo as outras. Eis:

 

XI

A angústia é um dom

dado aos poucos que vivem

entre o amor e a guerra.

Aos que pedem paz,

eu travo a mais dura batalha;

aos que pedem sangue,

eu lhes dou o meu suor.

Em razão de tantas (in)felicidades,

o homem clama dia e noite

pelo fim

e pela eternidade.

 

O primeiro sentimento foi fascínio, depois medo, e depois uma calma. E foi mudando e se intensificando cada vez mais. Acho que é esse o papel da poesia, o papel da arte. Me considero uma pessoa racional, números, fórmulas e miligramas permeiam meus pensamentos na maior parte do tempo, e quando li o livro de poemas, foi como se eu tivesse dado uma pausa, um curto espaço de tempo onde foi possível identificar o que eu senti.

Seguida dessa poesia – a XI da Primeira Parte de “Dom Quixote” - vieram outras, e novas pausas, e novas surpresas. A você, que assim como eu talvez não se interesse por poesia, permita-se, dê uma chance. Sinta tudo ou não sinta nada, garanto que as duas maneiras serão proveitosas, às vezes eu me pego abrindo o livro em uma página aleatória para ler o que estiver escrito, e aí vocês já sabem, novas pausas e novas surpresas.

 A você que já lê e gosta da poesia, leia o livro, se aventure na inconstância de “Dom Quixote” e sinta e aprecie a arte. Obrigado, ao autor, por ter compartilhado suas loucuras de uma forma nada convencional, e ao universo por me ter dado o livro, às vezes faz bem não procurar uma razão lógica para as coisas.

 

 

Felipe Figueira. Dom Quixote. São Paulo: Editora Patuá, 2020.


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