Ubuntu e Estrutura Democrática no Brasil
Escrevo esta nova exposição de ideias às vésperas de uma eleição essencial para a nossa democracia. Sociedade brasileira marcada por diferentes contrastes e conflitos. Um ponto de grande influência para o atual pleito de 2022. Porém, por qual motivo trago o conceito de Ubuntu para essa discussão? Ou o mais principal para início de discussão: O que significa Ubuntu? Para começar o Ubuntu é um conceito presente na maior parte dos idiomas bantos africanos. Compartilha suas origens com o termo bantu que significa pessoas, denotando a importância da comunidade e a conexão entre os indivíduos que a compõem. Segundo Mungi Ngonome a “ideia de é bem representada nos idiomas xhosa e zulu através do provérbio umuntu, ngumuntu, ngabantu, que significa “uma pessoa só é uma pessoa por meio de outras pessoas” (Ngonome, 2022, p.14). Apresenta então a noção de pertencer a uma comunidade. Sentir-se acolhido por ela. Estar satisfeito em fazer parte desta. Expressa assim o sentido do “eu sou porque nós somos”.
Neste aspecto, o princípio de Ubuntu expressa que apenas somos quem somos graças às outras pessoas. Somos um eu enquanto constituímos comunidade com outros. Que não há ninguém melhor do que ninguém. Que todos somos importantes uns para os outros na construção de uma comunidade saudável.
Politicamente o Ubuntu nos ensina que: “O mundo está cheio de indivíduos que querem a mesma coisa: uma sociedade justa e igualitária, uma oportunidade de viver em paz, uma chance de sustentar sua família e de se sentir seguro e próspero. Essas são necessidades fundamentais da condição humana (Ngonome, 2022, p.41). Ora, tal sentimento só reforça a importância de se reforçar as bases para o estabelecimento de uma comunidade nacional politicamente e socialmente democrática mais forte e sólida.
Finalmente, o Ubuntu nos pode ensinar que a mudança é sempre possível, por mais grave que seja o momento presente. Por este motivo, como cita Nelson Mandela: “Que as suas escolhas reflitam esperanças, não seus medos”. Levando-se em conta que nossa base cultural de origem africana, possui sua origem nas etnias banto, partindo da inspiração do Ubuntu, possamos vencer os ódios e os medos, estabelecendo uma perspectiva de presente e futuro positiva, fortalecendo os laços comunitários das relações entre os indivíduos de modo mais igual e livre, fortificando desta forma o nosso espaço democrático.
. Ngomane, Mungi. “Ubuntu todos os dias: eu sou porque nós somos. Tradução de Sandra Martha Dolinsky – 1. ed. – Rio de Janeiro: Editora BestSeller, 2022.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com