Temos vacina! Embora em pouca quantidade! Conta-se incialmente com a tão demonizada e atacada Coronavac, objeto de disputas e controvérsias inúteis! Infelizmente, agora estamos atravessando uma situação de espetacularização da dor. O que pretendo afirmar com tal termo? Se até agora, a dor pela falta de vacina e a perda de vidas foi marcante, observamos a espetacularização do momento mais sublime para muitos: ser imunizado. Um sensacionalismo desnecessário e desrespeitoso, tanto com a dor dos que perderam alguém quanto a dor da angústia de quem aspirava proteger-se contra a morte pelo Coronavírus. Temos vacina, mas não como queríamos e desejávamos.  Surge mais uma forma de espetacularizar a dor pela angústia de muitos que aguardam a imunização. A dor de revolta contra um sentimento de abandono. Temos a espetacularização por parte de personagens localizados na estrutura dos governos que tentam ganhar com a alegria e alívio dos poucos já vacinados. Destaque-se o sempre presente espetáculo midiático, que não sendo nossa intenção, desprezar o papel positivo da mídia, normalmente sua atuação se pauta exageradamente na exposição e estimulação das imagens de dor. Nada de surpreendente para a nossa contemporaneidade que se caracteriza, segundo Guy Debord, enquanto uma Sociedade do Espetáculo (1997, Debord) . Desde às relações interpessoais à política, passando pelas manifestações religiosas e as imagens de tragédias ou momentos de humanitarismo como a vacinação tudo está mercantilizado e envolvido por imagens construindo-se um marketing espetaculoso. Nada contra transmitir imagens positivas, expressando alegria ou esperança, mas penso que se deve ter cuidados minimamente éticos para não se transformar uma ocasião que representa o cuidado com a vida e a oportunidade de se evitar a doença que traz consigo a morte, em um espetáculo que promova egos, interesses, ambições ou sirva para se incompetências e omissões. 

Debord, Guy. Ed. Contraponto, 1997.