A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


O Funcionamento da Humanidade em Crise


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 18/05/2021
  • Compartilhar:

O sentido de Humanidade, nos remete na maioria das vezes, à uma noção orgânica de homem racional, capacitado em controlar sua animalidade, construir a sua cultura e viver em comunidade. Surge uma visão de universalidade que não deixa perceber que o conceito de humanidade em sua constituição moderna, passa por uma intensa crise e ainda exclui outras formas de cosmovisão de mundo, além de culturas não incluídas no modelo de humanidade racional e civilizada. Cosmovisões e filosofias sobre o mundo, que são colocadas à margem do contexto ocidental de humanidade, apresentam percepções críticas dessa crise, exatamente neste momento da pandemia do coronavírus. Aílton Kernak, por exemplo, observa que o ser humano se deslocou completamente da natureza e de qualquer tipo de sintonia com a terra, colocando-se como seu senhor e explorador. Natureza “devorada” por grandes corporações que controlam os recursos financeiros do planeta e persistem na concepção europeia colonizadora de que exista uma “humanidade”, enclausurada na maior parte de sua vida em ambientes artificiais, sendo essa considerada a Humanidade de todos. O modelo a ser mantido. Segundo Krenak: “Essa chamada humanidade, na verdade, constitui um grupo seleto que exclui uma variedade de sub-humanidades, caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes, que vivem agarradas à terra, aos seus lugares de origem, que são coletivos vinculados à sua memória ancestral e identidade. Esse grupo exclui também 70% das populações arrancadas do campo e das florestas, que estão nas favelas e periferias, alienadas do mínimo exercício do ser, sem referências que sustentam a sua identidade. São lançadas nesse liquidificador chamado humanidade” (2019).  Krenak, a partir de uma reflexão própria da perspectiva indígena, indica como a noção de humanidade, formulada e ainda presente, necessita de ser questionada.

Krenak aponta que embalados com a história de que somos a humanidade, nos alienamos desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Uma separação marcada pela superioridade do ser humano, qualificando-se enquanto “mestre da natureza”. Refletindo junto com Krenak, tudo é natureza. O cosmos é natureza. Agora, já imaginou que esse organismo, o vírus, possa também ter se cansado da gente e nos “desligado”? Sabe como faz isso? Tirando o nosso oxigênio. Dizem que a COVID-19, quando evolui para os pulmões, se não tiver bomba, aparelho para alimentar de oxigênio, a pessoa morre. Quantas máquinas dessa vamos ter de fazer? De acordo com esse pensamento crítico, a Terra dá de graça o oxigênio que nos permite dormir e despertar pela manhã. Fornece o oxigênio para os outros seres vivos. Agora a Terra está falando para a humanidade: silêncio para refletir e mudar. Esse é ou deveria ser, um grande significado do nosso recolhimento. Deveríamos nos questionar: somos mesmo uma humanidade? Esse modelo de humanidade ainda nos é adequado?  

KRENAK, AÌLTON. Ideias para Adiar o Fim do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.