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O PAPEL DA ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 11/09/2020
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Dou início a uma nova exposição de ideias, colocando uma afirmação: “Observamos que nesta pandemia, o conhecimento científico passou e passa por um forte momento de negacionismo”. Postura que inclusive trouxe e ainda traz riscos para seu controle e eventual cura. Os fatores não são poucos, mas para a nossa reflexão destacarei apenas um: o nosso analfabetismo científico. Inicialmente, deve-se esclarecer que quando nos referimos ao processo de alfabetização, imagina-se que se ensinará a alguém as estruturas e regras de uma determinada linguagem. Então podemos questionar: A Ciência tem uma linguagem? A resposta é positiva, pois apresenta formulações e representações por um tipo de linguagem própria que, em muitas ocasiões, não conseguimos ainda compreender. Partindo desse ponto, gostaria de formular uma questão mais básica, porém não menos importante: O que é Ciência? Eu não tenho uma resposta fechada ou exata, mas posso afirmar que ela se faz tão presente em nosso cotidiano que temos a impressão de saber o que ela de fato seja. Conhecemos seu potencial prático e utilitário, principalmente depois de seu casamento definitivo com a técnica, originando o que muitos denominam como tecnociência. Mas o que de fato vem a ser Ciência? E assim faço outro questionamento para a nossa reflexão: Por que algo confirmado como “cientificamente comprovado” torna-se aceito quase sem questionamento? Observamos no fenômeno da pandemia do Corona vírus (Covid-19) debates extremos quanto medidas identificadas enquanto científicas em contraponto a outras classificadas enquanto anticientíficas. Muitos de nós encontramo-nos perdidos em meio a esse confronto. E o que tudo isso tem a ver com a importância de uma alfabetização científica? Inicialmente destaco que uma sociedade que busque um melhor padrão de vida necessita ser instruída cientificamente, a partir de uma educação escolar desde a infância até uma divulgação popular que sirva como estratégia de alfabetização científica. Creio que tal ação possa construir indivíduos que consigam reconhecer e diferenciar o que venha a ser de fato algo próprio da Ciência, daquilo que aparenta ser científico, mas que não passa de uma pseudociência. Penso também que tal alfabetização nos permitirá ser mais críticos quanto aos usos e abusos do conhecimento tecnocientífico, além de reconhecer que a Ciência é uma das formas de leitura do mundo ao qual a existência humana se desenrola. Que ela pode e deve dialogar com outras visões que são próprias de nossa dimensão existencial: a Religião, a Arte, a Filosofia e outras. Também como ressalta o professor Attico Chassot, deve-se construir um diálogo entre ciência e saberes populares, visando a discussão da escola com esses saberes, enfrentando também o problema de se ensinar uma ciência que é marcadamente abstrata e analisando as possibilidades de trabalho que evitem o distanciamento dos alunos em relação ao conhecimento científico, para se evitar posições negacionistas e obscurantistas.  Não para que esse conhecimento se transforme em moeda de troca para a mera inserção no mercado, mas para facilitar a organização da luta social e política. (1)

 

 

(1)CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Ijuí: Unijuí, 1ª ed. 2000.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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