Travessias
Elogios[1]
Se em um texto anterior eu tratei sobre chamadas de atenção (e mesmo broncas), nada mais coerente do que agora tratar de elogios e reconhecimentos. No artigo “Broncas” falei mais na condição de aluno, agora falarei mais enquanto professor.
É difícil uma turma que não tenha um “líder negativo”, aquela pessoa que gosta de tumultuar e desviar o foco da sala. Quanto a esse líder, caberia um texto só para analisá-lo em suas múltiplas nuances, mas não é o caso aqui. A questão é que o professor esperto e experiente deverá controlar esse aluno para que a aula flua da melhor forma possível. E a forma de melhor controlá-lo não é por meio de embates, mas por meio de elogios sinceros.
Lembro-me que nos meus primeiros dois anos de magistério havia um aluno que mais ficava para fora do que para dentro de sala. Na sala de professores o assunto era um só: o dito aluno. Eu passava pela sala da coordenação e lá estava o indivíduo recebendo chamadas de atenção. Um dia me irritei e falei, reservadamente:
- Rapaz, deixa disso, você é tão inteligente, mas perde tempo em bate-bocas e sendo mandado para fora de sala. Use a sua inteligência: caso algum professor te irrite ou você esteja irritado, pegue só o que te serve e o restante jogue fora. Assim a sua vida vai melhorar.
E não é que melhorou? Bate-bocas ficaram raros e idas à coordenação mais raras ainda. Algum tempo depois da primeira conversa eu comentei:
- Se você quiser ser meu amigo, não poderá ser inimigo de professores.
Daí para frente nos aproximamos, a ponto de que ele chegou a ir à minha casa ver meus livros. Foi legal essa transformação para melhor.
Um dia, eu estava no aeroporto de Maringá, alguns anos depois de não mais ver aquele aluno, e eis que sinto alguém bater nos meus ombros: era o rapaz com roupa de piloto. Ele estava em um curso de aviação civil. Que belo dia. Que bela memória esta que tenho.
O caso que narrei acima é um dos mais extremos que possuo sobre o poder dos elogios. Friamente, meu elogio inicial foi mais uma chamada de atenção, mas que teve um efeito positivo grande. Porém, não é preciso ir tão longe para saber o poder do elogio. Cada pessoa gosta de ver o trabalho, ainda que mínimo, reconhecido.
É gostoso – aqui falo enquanto aluno – ver um “Parabéns! Continue assim.” em uma avaliação. Realmente dá vontade de “continuar assim” – e avançar. Se constrói mais com elogios do que com críticas, ainda que estas, quando construtivas e com uma pitada de elogio, também construam.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.