Educação e convivência comunitária
De tempos em tempos a discussão sobre se é possível ou não os pais educarem formalmente os próprios filhos (re)surge. De tempos em tempos (e até rotineiramente) surge o debate de que a educação presencial será substituída pela educação a distância. Porém, dois aspectos me parecem fundamentais de serem ditos como contrapontos a esse debate:
1º Trata-se da velha expressão “santo de casa não faz milagre”.
2º A educação formal não é só conteúdo, mas também convivência comunitária.
Com o primeiro aspecto quero dizer que os pais ou responsáveis são educadores em sentido pleno, na medida em que formam os filhos na e para a vida. Todavia, mesmo pais com excelentes formações acadêmicas podem não ser, para os próprios filhos, bons professores. A educação formal é uma atividade profissional que exige certo distanciamento de questões mais afetivas. Não se trata aqui de dizer que um pai não pode ensinar o filho (vide, por exemplo, as tarefas escolares) ou que este não possa ter aulas com aquele em uma instituição de ensino, mas que essas são situações excepcionais. Em síntese, os pais são educadores em sentido pleno, mas não precisam também ser profissionais do magistério.
E com o segundo aspecto estou a dizer que uma escola ou universidade está muito além da esfera do ensino, dos conteúdos. O espaço educacional é, talvez até primeiramente, ambiente de convivência comunitária, de socialização. Eu costumo dizer aos meus alunos da licenciatura em Química que eles precisam dominar não só a ciência da qual eles receberão o título, mas conhecer a pedagogia como um todo, afinal, eles serão professores. E costumo também aconselhar que respeito de sala se conquista fora de sala.
Por fim, e para que esse texto fique um pouco mais claro, a educação a distância é um fato e é amplamente difundida, porém, a educação deve ser vista além do aspecto formal dos conteúdos, mas constituída pela socialização. Quantas amizades feitas na escola que se estendem para toda uma vida? Na escola deve se ensinar (e se ensina) não só a ler, mas a ler o mundo.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.