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Sombras da Intolerância Religiosa


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 11/09/2023
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Ao iniciar esta nova troca de ideias, ressalto que a temática surgiu, após um diálogo tranquilo e ao mesmo tempo, um tanto inquietante com a minha esposa, uma praticante devota do catolicismo, possuidora de um senso crítico iluminado e intenso, semelhante a sua fé e devoção. O tema se referiu as sombras da intolerância religiosa em nossa sociedade brasileira. O motivo pelo qual faço alusão a imagem de sombras, para discutir sobre a intolerância religiosa, se justifica por ser uma temática presente muito concreta em nosso quotidiano, mas que na maioria das vezes, é tratada como se fosse apenas uma sombra. Algo que aparenta ser mais não ou não acontece, ganhando o aspecto de sombra que aparenta algo ou que simplesmente se aconteceu, já foi e passou.

Destaco a matéria publicada na Carta Capital, na data de 19-05-23, com o seguinte título: “Nunca foi tão urgente enfrentar a intolerância religiosa”.  Neste artigo, a revista desenvolve um apanhado de casos recorrentes de ataques a terreiros de religiões afro-brasileiras. A capelas e igrejas católicas depredadas e pichadas. Desqualificação de integrantes das igrejas evangélicas, denominados como ignorantes, alienados, vigaristas, fanáticos. Foram denunciadas diversas formas de agressão contra judeus e as suas sinagogas. A situações de ofensa a seguidores do Islã. Além de afrontas e ataques a pessoas que não confessam nenhum credo religioso. Temos sombras sim, mas que ameaçam de modo concreto, tanto a liberdade religiosa quanto a busca em se estabelecer um Estado laico com intensas práticas e formas de intolerância.

Penso que tal temática, apresenta-se como muito difícil de ser admitida abertamente em uma sociedade como a nossa, marcada pela pluralidade de crenças religiosas e o sincretismo religioso. Entretanto, essa sombra deve ser enxergada e seus efeitos combatidos. Afinal, a intolerância se torna concreta quando estabelece preconceitos, discriminação e segregação ao outro que acredita e interpreta o mundo religiosamente de forma diferente. Fomenta-se o ódio contra quem acredita diferente ou a quem não acredita, efetivando-se assim as práticas de intolerância pela violência física, moral e social.

O espectro da intolerância racial também se faz presente na intolerância religiosa, principalmente quando são colocados como alvos os adeptos negros das religiões afro-brasileiras e que são acusados de cometer “males”, a partir de suas práticas religiosas, denominadas de “demoníacas”. A violência racial expressa-se também a partir da intolerância religiosa.

A intolerância religiosa é crime em nossa sociedade, mas suas sombras permanecem bem fortes. Combatê-la, passa inegavelmente por aplicação de leis garantidoras da liberdade religiosa e da laicidade. Porém, não se pode negar a importância de um processo educacional que forme cidadãos respeitadores de valores e direitos, promotores da equidade e de sentimento de maior respeito entre todos os indivíduos, independentemente de credos diversos e diferentes, algo que por sinal se apresenta enquanto uma característica própria de um corpo social como o nosso.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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