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Sétima Arte - Filme 1917


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 24/01/2020
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Essa é uma semana ímpar para os fãs de cinema. Depois da premiação do Globo de Ouro, no dia 05 de janeiro, muita gente ficou bastante curiosa sobre um filme até então quase desconhecido aqui no Brasil, o épico de guerra 1917. Como ele já havia estreado em vários países, os mais entusiastas leram muita coisa a respeito e surgiu uma grande dúvida: o que é plano-sequência? Para a alegria de muitos, esse filme estreou ontem no cinema e agora todos podem contemplá-lo na tela grande. Por isso, a Coluna Sétima Arte dessa semana é dedicada exclusivamente ao filme 1917.

Para deixar um pouco mais claro o frisson em torno desse filme, eu gostaria de iniciar comentando sobre o tal plano-sequência. Muita gente especializada tem afirmado que ele é o maior trunfo de 1917 diante do Oscar. Outros já acreditam que a Academia irá se render a esse plano-sequência na 92ª Cerimonia do prêmio, que acontece no dia 09 de fevereiro. Essa técnica não é uma novidade, ela surgiu ainda nos anos 1940, quando o mestre do suspense, Alfred Hitchcock, dirigiu em 1948 o seu famoso thriller psicológico Festim Diabólico. Nesse filme Hitchcock passa a impressão de que tudo foi filmado num take só, quando na verdade, o que ocorre é a filmagem em longos takes de até 10 minutos, que são cuidadosamente editados para darem a aparência de uma continuidade. Isso é o plano-sequência. Após ele, alguns diretores talentosos se aventuraram por essa técnica e outros, principalmente de filmes mais Cult, chegaram a realizá-la de forma continua, o que não deixa de ser surpreendente.

É por isso que 1917 tem chamado a atenção do público e da crítica, porque ele é todo rodado em plano-sequência. O que eleva o diretor Sam Mendes, já premiado por sua obra Beleza Americana em 2000 (Beleza Americana era um azarão naquela edição do Oscar, após uma ótima campanha de marketing se tornou o favorito e abocanhou os Oscars de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia, mas até hoje muita gente fala que ele só ganhou por falta de concorrência), ao patamar de um dos mais talentosos diretores da atualidade.

Vinte anos depois de Beleza Americana, Mendes volta à Cerimônia do Oscar, mas dessa vez como franco favorito, pois os membros da Academia, mais que ninguém, sabem muito bem o quão penoso e exaustivo é o trabalho de rodar um filme em plano-sequência. Foram seis meses de ensaio testando ângulos, movimentos, fotografia e interpretação para que a gravação de 1917 pudesse acontecer da forma como deveria. Com certeza todo esse esforço não passará despercebido na hora do voto para o Oscar desse ano.

Diante disso, o que me resta pontuar sobre 1917 é que esse é o tipo de filme que deve ser visto no cinema, com uma tela gigante e um som estrondoso. Ele foi feito para ser uma experiência única. Sua forma de narrativa com uma sequência de tempo cronológica (toda a trama se passa em praticamente um dia) permite uma boa imersão na história, além disso, ele inova ao fazer com que o expectador desenvolva empatia pela missão dos protagonistas e não necessariamente por eles ou por suas histórias já que o filme não permite um desenvolvimento do personagens. Outro ponto é a agilidade com que os coadjuvantes entram e saem de cena, dinamizando ainda mais a narrativa da história. 

Existe também um forte tom de ousadia em 1917 ao deixar de lado a grandiosidade que a guerra pode proporcionar ao cinema, para focar justamente no que, muitas vezes, acaba sendo o que há de mais descartável numa guerra, o humano. Bem por isso, o filme lembra em muitos aspectos um game em primeira pessoa e potencializa os sentimentos dos protagonistas para que o público compartilhe de todos. O excelente trabalho de fotografia também colabora muito nesse sentido, pois tanto os enlameados planos abertos, quanto os claustrofóbicos planos mal iluminados contribuem para que o expectador se enquadre na trama.

Dessa forma, como espetáculo visual o filme é tecnicamente perfeito, fotografia, mixagem de som e edição possuem uma harmonia imensa e os poucos diálogos permitidos pelo tipo de narrativa adotada fazem com que esse seja um filme para ser essencialmente contemplado e apreciado. Vamos à trama!

Os cabos Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) são jovens soldados britânicos durante a Primeira Guerra Mundial. Quando eles são encarregados de uma missão aparentemente impossível, os dois precisam atravessar território inimigo, lutando contra o tempo, para entregar uma mensagem que pode salvar mais de 1300 colegas de batalhão.

Por que ver esse filme? É claro que os aspectos técnicos são o principal argumento para defender a qualidade da obra de Mendes, mas o filme não é apenas isso, a abordagem da trama oportuniza um profundo mergulho na essência da humanidade. É uma exaltação da capacidade que cada homem traz em si e como, no final das contas, cada decisão e cada esforço desiquilibram a balança do destino. Aproveite essa grande obra e boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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