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Sétima Arte - Coringa


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 04/10/2019
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Tem filme bom, mas polêmico essa semana no cinema. Estreou ontem o longa que narra a origem do principal vilão do Batman, o icônico Coringa, que dessa vez é levado ao cinema pelo talentosíssimo Joaquin Phoenix. Tudo sobre esse filme de extremos você fica por dentro essa semana, na Coluna Sétima Arte.

Quero começar falando sobre os extremos. Isso porque antes mesmo de ser lançado oficialmente Coringa já estava fazendo muito barulho para o bem e para o mal. Ele conquistou a crítica e foi premiado com um Leão de Ouro no Festival de Veneza, criando uma expectativa enorme entre os fãs. Por outro lado, essa fama gerou muita insatisfação nos Estados Unidos e já chegou a contaminar até mesmo algumas pessoas por aqui, em terras tupiniquins. Esses afirmam que o filme é violento demais e que não apenas promove a violência, como faz apologia à mesma.

Como sempre, polemizar não é de todo ruim e isso só vem contribuindo para o aumento da curiosidade das pessoas em relação ao filme. Mas, de qualquer forma, gostaria de deixar meu humilde ponto de vista sobre isso. A meu ver, o entretenimento não contribui ou instiga para a prática da violência em países, como os Estado Unidos - que facilitam o acesso as armas -, ou mesmo aqui no Brasil, onde um grande número de crianças precisa conviver com situações de guerra, com tiroteios e tudo mais. Desde que o homem passou a ser capaz de criar, ele consegue transferir para a arte seus medos e torná-los menos insuportáveis ao transportá-los para a literatura, dramaturgia ou mesmo para o cinema. Por isso, minha dica é: aproveitem o filme!

Agora, vamos falar sobre o que interessa, o filme do Coringa. Esse personagem pra lá de marcante já foi interpretado, ao longo de seus quase 80 anos, por grandes atores, dentre eles merecem destaque, o caricato Cesar Romero, o incrível Jack Nicholson, o saudoso Heath Ledger e o camaleônico Jared Letto. Agora, quem dá vida ao principal rival do Batman é Joaquin Phoenix que entrega um personagem memorável e uma atuação digna de uma indicação do Oscar.

O filme que foi dirigido por Todd Phillips é sensível ao construir um protagonista incomum que é transformado pelo mundo ao seu redor. Arthur Fleck, o aspirante a comediante, poderia ser qualquer um, até mesmo você, caso fosse exposto ao mesmo extremo de situações. Mas no caso dele existe um agravante, ele já possui distúrbios psicológicos graves e luta para tentar ser feliz. Nesse ponto, o filme é realmente tocante, uma obra-prima por sua capacidade de dialogar com a realidade a sua volta, mas é claro que muita gente não está preparada para isso.

O primeiro grande acerto do diretor é situar sua história num recorte histórico específico, entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Ao fazer isso, foge de qualquer referência obrigatória a qualquer outro filme já feito pela DC/Warner anteriormente e o máximo que o expectador vai encontrar de referência ao Universo ao qual o personagem faz parte é a Cidade de Gotham e o nome da família Wayne. Além disso, esse período em questão é construído de forma sublime em cenários, figurinos e fotografia, fazendo do aspecto técnico um deleite para o público.

O segundo acerto do diretor é não entregar o óbvio em momento algum, fazendo jus ao próprio personagem que o longa buscar protagonizar. O roteiro escrito por Scott Silver tem um começo onde tudo parece tomar os rumos de uma história de origem tradicional, até que público passa a ser surpreendido constantemente. Na trama, nada nunca é o que parece, já que o diretor soube utilizar muito bem a loucura do personagem como elemento narrativo, dessa forma, tudo pode acontecer a qualquer momento e o roteiro se torna completamente imprevisível.

Os fãs de quadrinhos vão perceber que existe muito pouco dessa arte em tela, mas os cinéfilos de plantão vão adorar ver no filme referências claras à grandes clássicos dos anos 1970, como Taxi Driver ou Dia de Cão, de forma que até mesmo esteticamente Coringa lembra muito esse filmes. 

Terceiro acerto é a escolha de Phoenix para o papel principal. O Coringa é, em qualquer época, um verdadeiro desafio. Outros atores ao fazerem uma imersão em sua sombria história ficaram profundamente perturbados, exemplo disso, é a situação de Ledger, pois muitos acreditam que a morte de Heath Ledger foi resultado do brilhante Coringa que lhe rendeu um Oscar póstumo em Batman: O Cavaleiro das Trevas, de 2008. Phoenix tem tudo o que o papel exige, o tipo físico, uma aparência simplória, uma arrogância no olhar, um trejeito desajeitado, mas acima de tudo um talento fenomenal. Tanto que ofusca todo o resto do elenco, sendo digno de destaque apenas Robert De Niro, que rouba a cena como um apresentador de TV.

Vamos à trama! Arthur Fleck trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa comparecer a uma agente social, devido aos seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e os mata. Os assassinatos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne é seu maior representante.

Por que ver esse filme? Porque decididamente não é um filme para crianças. É um filme para adultos e de estômago forte. Violento, sujo, louco, sem pudores. Traz um tipo de revolta política que o conecta com a contemporaneidade, mas também uma base psicológica de realidade que o torna plausível não apenas para a caótica Gotham, mas também para o mundo ao qual estamos vivendo. Um filme sublime, impactante e cheio de arte, mas de longe um filme que não será popular, principalmente entre aqueles que não gostam da subversão. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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