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Relatos do Mundo


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 11/02/2021
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Fim de semana especial é feriadão para alguns e dia de trabalho normal para outros. Das muitas coisas que a pandemia de COVID-19 alterou na vida das pessoas, talvez o sacrifício do feriado prolongado de Carnaval tenha sido a mais estranha, pois o cancelamento da festividade acabou matando um pouco da própria identidade de cada brasileiro, goste ele da folia ou não. Mas tempos extremos merecem medidas extremas, então, pensando nisso, eu separei para esse fim de semana sem Carnaval um filme que pode dar um sentido diferente para esse vazio que a falta do feriado traz. Essa semana a Coluna Sétima Arte é dedicada ao faroeste Relatos do Mundo que acabou de estrear na Netflix.

Comentar sobre Relatos do Mundo é uma tarefa bastante agradável, primeiro porque eu adoro o gênero faroeste (ou como alguns prefere western), segundo porque é um longa muito mais leve do que se possa imaginar. Bem por isso, é um filme bacana para ser visto junto com nossos familiares mais velhos, sejam eles pais ou avós. Há alguns dias, quando li as prévias e percebi na ficha técnica que a direção de Relatos do Mundo estaria sob o comando de Paul Greengrass fiquei bastante feliz, pois ele fez história no cinema por meio da franquia Bourne, impondo um ritmo frenético e muita ação. Algo que poderia trazer um frescor para um gênero já tão explorado quanto o faroeste. Quando assisti ao filme, percebi que Greengrass refinou muito mais sua forma de direção e não deixou que apenas as cenas de ação contassem a história, pelo contrário, imprimiu em seu filme uma marca muito clara de humanidade, fazendo com que a história trouxesse à memória outras obras do gênero como, por exemplo, o excelente Bravura Indômita e só isso já bastava para fazer dele um grande filme.

A obra dialoga muito bem com os faroestes mais recentes e também com os clássicos do passado, fazendo com que a trama apresente uma singularidade mesmo sem abrir mãos dos tiroteios e das perseguições, tão típicas do gênero. Greengrass demonstrou ter sobriedade no desenrolar de Relatos do Mundo e também uma grande habilidade em retratar o drama das pessoas que desbravaram o “velho Oeste”. O roteiro, que tem como base o livro de Paulette Jiles, foi adaptado pelo próprio Greengrass juntamente com Luke Davis e ambos souberam dosar muito bem o que era próprio da história e o que era próprio da ação, tornando o filme bastante agradável em seu contexto.

Outro ponto que colabora muito para o bom andamento da trama é seu elenco. O protagonismo ficou a cargo de ninguém menos do que o bom e velho Tom Hanks. Sobre ele, não há o que se falar, sua atuação é, como sempre, brilhante e envolvente. Mas, talvez, a grande surpresa fique a cargo da pequena atriz alemã Helena Zengel. Não apenas eu (pobre mortal), mas muitos críticos ao redor do mundo foram surpreendidos com a qualidade da menina em cena. Hanks e Zengel, na função de protagonistas de Relatos do Mundo, são lados opostos de uma mesma moeda. Por vezes, as sequencias de cenas irão demonstrá-los de forma antagônica, ele é a calma e ela a fúria, ele é a compreensão e ela confusão, ele é a experiência e ela a incultura, até que tudo se equilibra e um passa a ser complemento do outro. Uma trajetória, que permite encantamento e identificação na mesma medida.

Além disso, o contexto da trama ajuda o expectador a conhecer um período da história americana que, para nós brasileiros, é bastante obscuro, o pós Guerra Civil Americana. O clássico E o Vento Levou... retrata de maneira bastante romântica o que se desenrola após a guerra, mas os detalhes da vida dura das pessoas simples no interior esquecido e sem lei, longe das grandes cidades, não tem espaço ali. Já aqui, em Relatos do Mundo, esse espaço e essas pessoas esquecidas ganham rostos, vozes e histórias, recontando a crueza da vida no Oeste dos Estados Unidos da América em 1870.

Além disso, o filme faz uma bela e singela homenagem às pessoas que buscam democratizar a informação, os fatos e os acontecimentos. Em nosso mundo atual, onde toda e qualquer notícia está disponível na palma da mão, é quase impossível imaginar uma época em que as pessoas viviam sem saber o que estava acontecendo na cidade ao lado, muito menos no resto do mundo. Tom Hanks interpreta uma pessoa que ganha a vida lendo jornal de cidade em cidade, parece pouco, mas para muitos esse era o único acesso ao mundo que estava para além das cercas de seu sítio. Ver o esforço do protagonista em permitir que as pessoas não fossem alheias aos fatos nos faz repensar o quão preciosas são as notícias na atualidade e quão nocivas são as fake news divulgadas de maneira tão inconsequente por uns e outros.

Vamos à trama! Em Relatos do Mundo, no ano de 1870, o Capitão Jefferson Kyle Kidd, um viúvo que já lutou em duas guerras, viaja através do Texas oferecendo notícias do mundo para as pessoas, apesar dos jornais estarem se tornando cada vez mais acessíveis. Ele aceita uma proposta para levar uma menina de 10 anos, Johanna, até seus familiares. Criada pela tribo Kiowa, ela não conhece sua família e tem um comportamento hostil com as pessoas ao seu redor, mas acaba criando um vínculo com Kidd, forçando os dois a lidarem com as difíceis escolhas sobre o futuro.

Por que ver esse filme? Muitas razões corroboram para que você aproveite o cancelamento do Carnaval para apreciar Relatos do Mundo, dentre elas eu destaco: o gênero faroeste que agrada a muitos , o elenco, principalmente devido a Tom Hanks, que sempre impõe um tom intimista às suas obras, o esmero e o cuidado de direção de Paul Greengrass e, por fim, a diversão. Esse é um filme que traz ação, tiros e perseguições, mas que vai além e faz o expectador pensar a vida, pensar o mundo e perceber que nunca é tarde para mudar as escolhas pessoais e abraçar a felicidade. Boa sessão!

 

 

 

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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