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Romanos: o evangelho em sua pura essência


Por: Fernando Razente
Data: 05/04/2022
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A carta de Paulo aos Romanos (c. 56 d.C.) é considerada uma das cartas mais importantes na história da igreja cristã. O pai da igreja primitiva João Crisóstomo (347-407), no século IV d.C., lidava com esta carta como a “trombeta espiritual de Paulo” pela maneira vibrante que doutrinas fundamentais da fé cristã são proclamadas, como a depravação radical da raça humana, a justificação pela fé em Cristo somente, o poder soberano e santificador do Espírito Santo nos crentes e a eleição incondicional, para falar apenas de algumas das gloriosas doutrinas que encontramos nessa preciosa obra inspirada por Deus. Foram muitos homens ao longo da história que tiveram suas vidas transformadas ou drasticamente impactadas por Romanos. Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), o bispo africano do início da Era Medieval, foi convertido de sua vida de pecados e dissoluções quando leu o versículo 13, do capítulo 13 de Romanos. Naquela porção das Escrituras, Agostinho encontrou as palavras divinas de salvação e recebeu um novo coração para a glória de Deus. 

O reformador William Tyndale (1494-1536) no prólogo que escreveu ao livro de Romanos em sua tradução do Novo Testamento para língua inglesa em 1534, disse que em Romanos o evangelho de Cristo é apresentado em sua mais pura essência: “(...) a principal e mais excelente parte do Novo Testamento, o Evangelho — isto é, a boa nova — em sua essência mais pura… e também uma luz e um caminho para se penetrar em toda Escritura… Quanto mais ela for estudada, mais fácil será; e quanto mais mastigada, mais agradável se tornará.” No final da Idade Média, o padre e teólogo agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) compreendeu, a partir da leitura de Romanos capítulo 1, versículo 17, que a salvação do pecador se dá pela fé na justiça de Cristo imputada de forma gratuita, e não a partir de boas obras. Foi o próprio Lutero que declarou mais tarde ser o livro de Romanos “(...) a parte principal do Novo Testamento... e verdadeiramente o que há de mais puro no evangelho”, e ainda acrescentou um conselho: “Todo cristão deveria não apenas conhecê-lo de coração, palavra por palavra, mas também ocupar-se com ele a cada dia, como pão cotidiano para a sua alma.”

Também vemos no século XVI João Calvino (1509-1564), “o exegeta da reforma”, demonstrando sua grande estima para com a carta de Paulo aos Romanos quando declarou que a epístola paulina era uma pedra fundamental na interpretação de toda a Escritura: “Se nós atingirmos uma verdadeira compreensão quanto a essa Epístola, teremos uma porta aberta para todos os tesouros mais profundos da Escritura.” O metodista e grande evangelista John Wesley (1703-1791), no século XVIII, foi convidado para uma reunião de morávios em Aldersgate Street, em Londres e depois de ouvir um pregador ler o comentário de Lutero aos Romanos teve a certeza de que Cristo era seu redentor: “Por volta das 8h45min da noite, enquanto ele [pregador] descrevia a mudança que Deus opera no coração pela fé em Cristo, senti meu coração estranhamente aquecido. Senti que confiava em Cristo, somente em Cristo, para a salvação. Uma certeza me foi dada: Cristo levara meus pecados e me salvara da lei do pecado e da morte.”

 O teólogo anglicano John Stott (1921-2011) defende que a carta aos Romanos se trata de um tipo de “manifesto cristão… um manifesto eterno” onde se encontra “a mais completa, mais pura e a mais grandiosa declaração do evangelho.” Em outras palavras, é em Romanos que o mundo deve procurar entender do que é que os cristãos estão falando quando falam de salvação através de Jesus Cristo e todas as suas implicações. O comentarista bíblico e pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes chama a carta de “maior tratado teológico do Novo Testamento”, pois em Romanos encontramos doutrinas robustas e sólidas sobre as questões mais profundas do cristianismo, onde os crentes podem encontrar verdadeira segurança. 

Sem dúvidas, trata-se de uma carta muito antiga, mas que se faz — como Palavra viva e eficaz de Deus — sempre atual, valiosa e relevante para nós. O já citado Stott defendeu que vários assuntos pertinentes aos nossos dias são abordados na carta aos Romanos; alguns desses assuntos cito aqui, como o entusiasmo pela evangelização mundial, se os relacionamentos homossexuais são naturais ou antinaturais, se ainda devemos crer em certos conceitos como “ira” de Deus e “propiciação”, a historicidade da queda de Adão, a tensão entre identidade étnica e solidariedade do corpo de Cristo, as relações entre igreja e estado, os deveres dos cristãos como cidadãos de um sistema político, e essa lista ainda é uma pequena amostra de assuntos em voga e que são tratados em Romanos. 

Sendo assim, torna-se imperativo para todos os cristãos o estudo minucioso desta carta inspirada por Deus. Há muitos tesouros a serem extraídos dela e o meu objetivo a partir de hoje aqui na coluna Expondo as Escrituras é — com a graça de Deus e a iluminação do Espírito — iniciar uma série de exposições detalhadas desse maravilhoso e poderoso livro de Romanos. Meu desejo é que, com a bondade de Deus, eu não venha a obscurecer o sentido da carta com as minhas limitações, mas me esforçar por esclarecê-la, realizando aquilo que o teólogo alemão Karl Barth (1886-1968) chamou de “fidelidade suprema” a Paulo, ou seja, deixar que Paulo fale aquilo que intencionou falar e não o que nós, em nosso tempo e cultura, queremos que ele fale. E que assim, as sementes do “evangelho em sua pura essência” frutifiquem através de corações contritos, arrependimentos e crentes na graça soberana e renovadora do Senhor.

No próximo texto, se Deus assim permitir, iremos examinar o contexto geral de Romanos. Conto com a sua companhia, caro leitor (a)!

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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