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Relato de experiências sobre a suspensão das aulas


Por: Assessoria de Imprensa
Data: 31/03/2020
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*Guilherme Roque Zidiotti

Bom! Confesso que não fazia parte das minhas intenções como estudante universitário algum dia ter que me sentar e escrever algo que não fosse diretamente relacionado aos estudos. Com certeza que já refleti algumas vezes sobre paralizações das aulas, mas sempre por motivos “comuns” como greves, reformas, necessidades da própria escola ou da faculdade. Até seria mais fácil escrever a minha experiência e ponto de vista sobre como é uma paralização das aulas por motivos mais simples como já mencionei, mas escrever partindo de um motivo tão aterrorizante como o atual, com certeza não estava nos meus planos.

No dia 16/03, uma segunda-feira, a Reitoria do Instituto Federal do Paraná (IFPR) declarou que todas as atividades do Instituto estariam suspensas por um período de quinze dias, cumprindo com ordens do Ministério da Saúde, com o objetivo de auxiliar na contenção da disseminação do Coronavírus. Hoje, 27 de março, no dia que escrevo esse relato, a Reitoria nos comunica a prorrogação da suspensão por mais trinta dias. Estudo em uma faculdade não muito grande, se comparada às universidades vizinhas somos praticamente os menos volumosos. Apesar disso, o campus recebe estudantes de aproximadamente 30 cidades distintas, o que nitidamente resulta em um número muito grande de contato direto e indireto entre as pessoas.

Falando sobre a minha rotina de idas e vindas do Instituto, bem, não a faço há duas semanas. Não moro mais com os meus pais, sou bolsista de iniciação científica na faculdade, e com o dinheiro da bolsa, divido uma casa com outros meninos e consigo pagar as minhas contas. Levo uma vida muito corrida. Todos os dias estou no laboratório fazendo análises químicas, produzindo e aprendendo, ou estou na biblioteca tentando fazer todas as dezenas de trabalhos que tenho para realizar. Sempre estou com algum caderno por perto para passar a matéria a limpo e sempre estou na sala dos professores esclarecendo alguma dúvida e ainda arrumo tempo para jogar pingue-pongue nas sextas-feiras. Agora? Não estou no laboratório, nem na biblioteca, nem brincando ocasionalmente. Meus trabalhos divergem entre uma leitura ou outra, pouca coisa a ser feita. Neste período de quarentena retornei à casa dos meus pais, e aqui não tem aquela correria a qual eu estava acostumado a passar todos os dias.

Acompanho diariamente os noticiários e a quantidade de tristezas que ouvimos é desesperadora. Infelizmente, boa parte do que é relatado é real. Vejo meus amigos e familiares discutindo sobre as decisões políticas, o que é certo ou errado, os números e as estatísticas. Não sou muito de me posicionar nesses debates, prefiro apenas escutar. Tenho para mim que os números são alarmantes, a ameaça é mais do que real, ela não escolhe raça, idade, gênero, condição financeira ou status social. Temos até o príncipe da Inglaterra infectado! Também defendo que ficar em casa, neste tempo, é um luxo, pois tenho o exemplo dentro da minha família.

Meu pai é retireiro e sustenta a família somente em razão da venda do leite. Como não moramos na propriedade, dependemos totalmente de acordar cedo todos os dias e sair de casa para poder ganhar o pão. Nesses dias eu saio para trabalhar com ele, o serviço não é dos mais fáceis, mas fazemos com amor. Apesar de tudo isso, temos o que jantar ao final do dia. Isso infelizmente nos mostra o quão “egoístas” somos, e que só lembramos do sentimento de empatia com aqueles que sofrem nas ruas, com a fome e a falta de amparo, em momentos de desespero e aflição, como o atual cenário devido à pandemia. Apesar de toda essa bagunça me mantenho firme nos estudos, sonhando com o futuro e esperançoso com o que a de vir. 

Retornando às experiências, sinto falta do meu dia a dia corrido, de todas as pessoas que tinha contato, das boas risadas com os professores e amigos, dos preciosos ensinamentos que recebíamos, ensinamentos para a vida, sinto falta até da falta dos meus pais. Diferente, não?! Enfim, infelizmente minha cidade, Terra Rica, já possui um caso confirmado com o Covid-19 e inúmeros suspeitos, apesar disso confio bastante nos profissionais da saúde que aqui atuam. Como dito no início desse relato, ainda sigo com meu pensamento inicial, de que escrever sobre uma paralização global devido a uma doença não fazia parte dos meus planos. Bom, ser universitário, e principalmente ser humano, é sempre estar disposto a mudar os planos!

*Guilherme Roque Zidiotti é acadêmico de Licenciatura em Química no IFPR – Campus Paranavaí


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