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Quando a África desperta dentro de nós


Por: Alessandra Macon
Data: 19/11/2025
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Existe um tipo de livro que não pede licença: ele simplesmente entra, acende uma luz e deixa você diferente. “Terra Sonâmbula”, de Mia Couto, faz exatamente isso. Não é um livro infantil, não é um livro leve — é um livro necessário. E, quando falamos de cultura africana, ele é uma das portas mais poéticas (e dolorosamente reais) para entender o continente que o mundo insiste em simplificar.

Mia Couto escreve como quem respira poesia.
Só que sua poesia não é dipensável; é denúncia, é memória, é esperança quebrada e reconstruída. Em Terra Sonâmbula, a África não aparece como cenário. Ela aparece como personagem.

A história acompanha um velho e um menino atravessando um Moçambique devastado pela guerra. Mas o que torna essa narrativa tão poderosa é a capacidade de revelar a África que muitos preferem não ver: a que sonha, mesmo quando dorme ferida; a que caminha, mesmo quando tropeça no próprio passado; a que conta histórias para continuar viva.

E talvez seja isso que mais me encanta na literatura africana: ela nunca conta apenas o enredo. Ela conta o espírito.

Em Terra Sonâmbula, tradição e modernidade conversam.
Memória e esquecimento duelam. Real e fantástico se misturam como se fossem irmãos nascidos da mesma dor.

A linguagem de Mia Couto, toda costurada de metáforas e reinvenções, mostra o que a cultura africana faz tão bem: transforma sofrimento em narrativa, transforma ausência em canto, transforma poeira em estrada. É uma escrita que lembra que identidade não é aquilo que tiraram de você, é aquilo que você decidiu guardar.

A África que emerge do livro é múltipla.

É ancestral.

É espiritual.

É resistente.

É profundamente humana.

E, enquanto o menino e o velho seguem pela estrada improvisada, nós seguimos com eles. Porque, de alguma forma, Terra Sonâmbula nos devolve algo que, sem perceber, havíamos perdido: a capacidade de sentir o mundo com olhos mais amplos e alma menos apressada.

Se você deseja compreender a cultura africana não como quem lê um relatório, mas como quem escuta um coração pulsando, leia Terra Sonâmbula.
Ele não é apenas literatura. Ele é encontro.

E encontros, meu amigo, mudam a gente por dentro.

 

Alessandra Macon


Anuncie com Jornal Noroeste
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