A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Política de morte sobre corpos vulneráveis


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 22/08/2023
  • Compartilhar:

No período em que desenvolvi esta nova troca de ideias, aconteceram novas mortes de crianças e jovens, durante operações policiais e conflitos no interior de comunidades da cidade do Rio de Janeiro. Crianças na faixa dos 5 anos e jovens com 13 anos, enquanto corpos vulneráveis, foram exterminados a partir de práticas de uma política de morte ou no sentido empregado pelo pensador camaronês Achille Mbembe, uma Necropolítica, expressando o trabalho de morte exercido por uma gestão política sobre os corpos de determinados grupos e indivíduos que são consideradas vidas sacrificáveis e elimináveis.

Destaco que não estou defendendo ou enaltecendo vitimismos ou defendendo criminosos, mas refletindo e debatendo a respeito de um tema maior e grave: a exposição de vidas ou corpos vulneráveis às ações violentas de intervenção do Estado em comunidades para combate ao crime, embasadas exatamente nesta lógica necropolítica ou de política de morte. Mbembe apresenta a política como a morte que vive uma vida, sendo ainda a necropolítica, a subjugação da vida ao poder da morte, que é o necropoder. Esses dois termos são importantes para dar conta dos modos pelos quais: “As armas são empregadas no interesse da destruição de pessoas e na criação de mundos de morte, novas e únicas formas de existência social, nas quais populações estão sujeitas a condições de vida que conferem a elas o status de mortos vivos” (MBEMBE, 2018).  O sentido de soberania por parte do Estado, ganha sua expressão máxima no poder e na capacidade do mesmo em decidir quem deve morrer ou viver. Indubitavelmente, as vidas de jovens e crianças, são extremamente vulnerabilizadas no emprego desta política de morte, sendo vitimadas de modo imperdoável e que de certa forma, suas mortes ou extermínios, tornam-se mais e mais naturalizadas e aceitáveis, quando na verdade a perda destas vidas custam muito não apenas as suas famílias, mas também a sociedade como um todo.

Penso que devemos exatamente aceitar essa situação com algo “natural”, nos obrigando a pensar se não chegou o momento de toda a sociedade, sem perder de vista a importância da política pública e combate ao crime, trabalhar de modo a inibir cada vez mais as práticas de política de morte, evitando a intensificação da ocorrência de infanticídios como os que tem acontecido,  por parte de agentes de Estado, que devem preservar e defender vidas, evitando colaborar na promoção de extermínios que caracterizam uma política de morte. As vidas vulneráveis das crianças e dos adolescentes, devem ser preservadas e defendidas, compreendendo a importância destas para construção do futuro de uma sociedade que desejamos ser ou pelo menos penso que assim desejamos ser: promotora de políticas de vida e não de morte.

Bibliografia:

MBEMBE, Achille. Necropolítica. Biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Tradução de Renata Santini. Rio de Janeiro: n-1 edições, 2018

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.