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Pessoas extraordinárias


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 12/05/2020
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Um dos maiores historiadores da história (o trocadilho é proposital) se chama Erich Hobsbawm (1917-2012). Em um livro intitulado “Pessoas Extraordinárias: Resistência, Rebelião e Jazz”, ele diz que há pessoas extraordinárias que só são conhecidas por amigos e parentes. A evocação desse livro se deu através da leitura de “Memórias de um professor”, de Attico Chassot, que se vale em parte das ideias do grande historiador inglês para trazer à memória alguns fragmentos da vida de seu pai, Affonso Oscar Chassot. Nesse sentido, eu pensei: por que não trazer à baila algumas lições de pessoas que para mim são extraordinárias, mas que são desconhecidas para o “grande público”?

Eu sou um entusiasta da educação formal, e uma parcela disso se dá porque ao longo dos meus 31 anos já estou há 26 nos bancos escolares, entre escolas e universidades, seja como aluno, seja como professor. Além disso, meus pais sempre me ensinaram que a educação é um tesouro que ninguém tira. Porém, como sempre tem um porém, a educação formal para mim não é um fim, mas um meio. O que estou querendo dizer é que provavelmente as maiores lições que já recebi foram em ambientes além dos bancos escolares, com pessoas simples como os meus pais e os meus avós.

Meu querido pai, Luiz Carlos, falecido em 20 de novembro de 2013, com apenas 50 anos, um dia me disse de forma bastante calma, e isso era até um pouco estranho, já que ele era um tanto estressado:

“- Fique tranquilo, filho, vai dar tudo certo.”

Mas, o que é que daria “tudo certo”? Eu havia prestado, em 2013, a seleção para o doutorado em Educação na UNESP de Marília e havia ficado como primeiro suplente. Fiquei com uma tristeza enorme, pois eu queria fazer a pós-graduação naquela instituição e teria provavelmente de amargar um ano de espera. Para a minha surpresa, no mesmo dia que saiu o resultado da seleção, por volta das cinco da tarde, aquele que viria a ser meu orientador me ligou dizendo que um orientando seu defenderia em breve o trabalho e que sobraria uma vaga para mim. Por fim, o “tudo certo” do meu pai se confirmou.

Outra coisa que sempre aprendi, especialmente da minha mãe, é que eu não podia ficar me comparando com ninguém porque cada um é cada um. Quando eu era criança e errava e até hoje, adulto, quando eu erro e tento me justificar a partir da falha de alguém a minha mãe, Rosângela Figueira, simplesmente diz:

“- Você não é todo mundo.”

E o meu avô paterno, Adelino Figueira, filho de pai e mãe portugueses, com o seu bom humor costumeiro não deixa de me ensinar o quanto temos de valorizar as coisas simples da vida. É do meu avô a joia abaixo, que bem se poderia converter em anedota:

“- O que que eu quero saber de cidadania portuguesa? O que que eu quero saber de Portugal? Eu já estou velho e mal consigo ir a pé até o centro.”

A partir dos simples exemplos acima, que todo mundo tem aos montes, é possível perceber que a formação de um indivíduo é um todo, que é complementada pela escola. O papel da escola na sociedade é fundamental, deixei isso claro anteriormente ao destacar que sou um entusiasta da educação formal. Porém, como sempre tem um porém, há muitas pessoas extraordinárias no dia a dia de todo indivíduo, como destacou Erich Hobsbawm. Tais pessoas, posso dizer, não raro são verdadeiras educadoras.

 

Attico Chassot. Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto. Ijuí: Ed. Unijuí, 2012.

Erich Hobsbawm. Pessoas Extraordinárias: Resistência, Rebelião e Jazz. São Paulo: Paz e Terra, 1998.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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