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O público, uma questão de tato


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 19/06/2023
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Todo professor, todo político ou todo líder religioso não pode falar em abstrato, sem pensar ou sem saber a quem se dirige. Se não houver cuidado com o público, a fala é prejudicada e corre o risco de se passar por loucura.

Quando iniciei o curso de História, logo nas primeiras semanas de aula, minha turma foi apresentada a um texto em espanhol sobre um grupo de historiadores marxistas britânicos. O fato é que havia a possibilidade de apresentar um texto em português, mas o professor decidiu pelo outro idioma sob o argumento de que História “é um curso que exige erudição e conhecimento de outras línguas”. O resultado? Oito alunos desistiram do curso ainda no primeiro bimestre, tendo como principal justificativa aquela escolha bibliográfica.

Mesmo para mim, que já tinha feito aulas de espanhol, aquele livro não pareceu de bom tom, uma vez que havia o mesmo conteúdo em português. Além disso, a minha turma era composta, em sua maioria, por pessoas que trabalhavam o dia todo e que só à noite tinham tempo para estudar. Hoje, com anos de experiência no magistério, eu penso: por que gastar uma energia física e mental desnecessária dos alunos? A menos que seja imprescindível, e a título de aprofundamento, eu indico livros em outros idiomas, do contrário, não encontro justificativas.

Outra história que posso dar como exemplo, que é idêntica à primeira, até porque foi fruto do mesmo professor, é a que se segue. O referido professor disse que organizaria um curso sobre História e Cinema na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Animado, me inscrevi e fui à cidade “vizinha” (a 70 quilômetros da minha). O primeiro encontro foi ministrado pelo meu professor, que, para o meu desgosto, exibiu cerca de trinta trechos de filmes e de desenhos em inglês, sem legendas. Voltei para casa sem ter aprendido nada, ou, com uma história marcante acerca da importância de se ter tato com o público.

Quando estou em sala de aula, eu procuro olhar nos olhos dos meus alunos e, sempre que possível, procuro conversar com eles, saber de onde vêm, o que fazem e quem são seus pais. Eu digo aos meus alunos que respeito de sala se conquista, também, fora de sala. Esse simples modo de proceder, que para mim é basilar, me ajuda a corrigir meus caminhos metodológicos, que se pautam na rigorosidade científica, mas que não prescindem do conhecimento do meu público. O professor abstrato, quando muito, produz conhecimento pelo conhecimento.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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