Fake News, um problema de lógica
Há mais de um ano assisto vídeos sobre xadrez, todavia, estou longe de poder enfrentar qualquer pessoa versada nesse esporte, ou mesmo um estudante de ensino médio, pois mal sei o movimento das peças. Se o campeão mundial Magnus Carlsen aparecesse em minha frente, eu correria antes mesmo de ver o tabuleiro.
Na juventude, eu pratiquei taekwondo e ganhei dois campeonatos, mas, quando comecei a treinar com um faixa preta que competia pela seleção brasileira, sendo eu um mísero faixa amarela, que surra que eu levava. Eu tinha 20 anos e o outro rapaz 14, só que as dores só ficavam do meu lado.
Eu admito, com vergonha, que sou sedentário, e que quando resolvo pedalar alguns quilômetros com o Nivaldo Elói, um amigo que pratica atividades físicas todos os dias, eu quase morro. Imagine se um ciclista profissional me propusesse um desafio.
Os exemplos acima podem se multiplicar ao infinito, indo dos esportes à gastronomia. No entanto, ouso dizer que em um assunto eu sou mestre, a saber, em educação escolar. Minha rotina de trabalho é de 40 horas semanais, mais cerca de 3 horas diárias de estudos particulares, que vão da leitura à escrita, de filmes a conversas com outros professores e pesquisadores.
Algumas questões: por que, no que diz respeito à educação e à ciência, tanta gente não envolvida com esse universo se considera apta a falar? Por que a voz de um professor, no que diz respeito ao ensino, às vezes tem o mesmo peso da de uma pessoa que mal sabe o que é uma escola? Se não há como um sedentário competir contra um atleta, por que um sedentário acadêmico disputaria contra um pesquisador? Não há lógica nenhuma, mas as fake news se alimentam justamente da falta de lógica.
Antes de encerrar este texto, é preciso destacar um problema que facilmente surge no dia a dia: não é porque alguém se formou em uma área que, com isso, pode falar o que bem entender dela, ou se considerar uma pesquisadora. Nem todo advogado é jurista. Nem todo médico é cientista. Nem todo historiador é especialista em história medieval. Os próprios pesquisadores, enfim, não podem falar o que quiserem de suas áreas, pois a prudência é a base da ciência.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.