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O inconsciente na cosmovisão de Schelling


Por: Fernando Razente
Data: 27/11/2023
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“[...] suposições parecem tão óbvias que as pessoas não sabem o que estão assumindo, pois colocar as coisas de outra forma é algo que nunca lhes ocorreu.”

– Whitehead, Science and the Modern Word (1925)

É especialmente a partir de Friedrich Schelling (1775-1854) que o termo Weltanschauung (cosmovisão) recebe contornos mais distintos dentro da filosofia alemã. Como vimos anteriormente, para Immanuel Kant (1724-1804) a palavra “[...] significa simplesmente a percepção do mundo pelos sentidos”, conforme Naugle. De maneira semelhante, esta também foi a compreensão básica de Goethe (1749-1832) e Humboldt (1769-1859).

É verdade que, posteriormente, Johann G. Fichte (1762-1814) desenvolveu uma noção razoavelmente distinta, fundamentada na noção de “legislador supremo”; mas é somente em Schelling que o significado da palavra muda drasticamente para “[...] o produto de um intelecto inconsciente”. Vejamos agora, de maneira mais detida, essa compreensão de Schelling do termo cosmovisão.

Schelling, nascido na segunda metade do século XVIII na Alemanha (Leonberg, Württemberg) foi – assim como Fichte – um grande representante do Idealismo alemão. Suas obras e atividade intelectual marcam o chamado período Spätphilosophie (filosofia tardia) do Idealismo.

Sobre suas relações com os filósofos predecessores, escreve o historiador Hans J. Störig (1915-2012) que ao lado “[...] de Kant, Fichte foi o filósofo estudado mais profundamente pelo jovem Schelling.” É natural, portanto, que Schelling tenha conhecido as discussões filosóficas sobre o Weltanschauung.

Seu conhecimento do termo em Kant e Fichte não o levou a uma consideração semelhante em relação ao significado e, para entender o sentido de cosmovisão em Schelling, precisamos ir até sua noção original de “inteligências”, desenvolvida em sua obra Ideen zur Philosophie der Natur [Ideias para uma filosofia da natureza], de 1797.

O filósofo defende que existem dois tipos de qualidades de inteligência no mundo ou na Natureza: uma cega e inconsciente e uma livre e com consciência produtiva. Enquanto a inconsciência produtiva gera uma Weltanschauung (cosmovisão), a consciência produtiva gera a criação de um mundo ideal.

Logo, entre essas duas qualidades de inteligência, a cosmovisão estaria localizada no inconsciente. Eis a novidade em Schelling! Por isso – defende David Naugle – Schelling muda radicalmente o significado de cosmovisão, afirmando que é “[...] uma maneira autorrealizada, produtiva e inconsciente de apreender e interpretar o universo dos seres” (NAUGLE, 2017, p. 77).

Assim, Weltanschauung na filosofia schellingniana é o produto de um intelecto inconsciente caracterizado por “[...] impressões subterrâneas sobre o mundo concebidas por uma mente anestesiada, embora funcional.”

Resumindo, Schelling é um dos primeiros a reconhecer que uma cosmovisão tem a característica de ser a expressão do inteligir do mundo por meio de condições de interpretações que nem sempre estão evidentes a nós mesmos. Ou seja, são em grande parte inconscientes (mas não menos influentes e determinantes que as ideias que possuímos conscientemente).

Não foi sem razão que em sua definição de cosmovisão (a qual iremos abordar mais adiante), o apologista cristão James W. Sire (1933-2018) tenha enfatizado o aspecto inconsciente das nossas pressuposições, como algo “[...] que sustentamos (consciente ou subconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a constituição básica de nosso mundo.” (SIRE, 2019, p. 29).

Concluindo, creio ser perfeitamente possível interpretar, inteligir, viver e agir no mundo sob condições e considerações das quais não estamos cientes no momento. Particularmente, em minha vida diária o grosso de minha cosmovisão é completamente subconsciente, pois na maior parte do tempo eu penso com ela, e não sobre ela.

Seria fundamental, é verdade, se pudéssemos pensar mais “sobre ela”; isto é, pensar e procurar as raízes de nossas cosmovisões, retirando as pressuposições mais firmes do nosso subconsciente para avaliá-las por meio da Palavra de Deus. Afinal, nossas mais caras (e óbvias) pressuposições podem ser completamente equivocadas!

 

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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