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O Esquadrão Suicida


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 05/08/2021
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A grande estreia dessa semana é O Esquadrão Suicida e você deve estar surpreso, achando que eu me enganei e que estou comentando sobre um filme lançado em 2016. Não meu caro leitor, você não está enganado, a DC/Warner resolveu fazer um reboot de seu grupo de vilões que fracassou no cinema cinco anos atrás. Refazer o trabalho de alguém nunca é fácil, mas parece que o responsável por esse novo filme fez direitinho o dever de casa. Essa semana a Coluna Sétima Arte traz o novo filme do universo estendido da DC Comics no cinema.

Esquadrão Suicida, de 2016, era uma grande promessa e desagradou os críticos e os fãs. Naquele momento específico, em que a DC tentava reaver o espaço perdido para os filmes da Marvel, era muito difícil que qualquer obra da DC agradasse a crítica especializada. Eu confesso que nem achei o filme antigo tão ruim, para mim, particularmente, era diversão descartável, mas para a maioria dos fãs o filme era uma ofensa. Com esse filme ocorreu o mesmo que aconteceria com a Liga da Justiça no ano seguinte, o estúdio, desesperado para atender aos críticos mais que aos fãs, picotou o filme do diretor David Ayer. Após uma campanha de marketing arrasadora e uma sequência de trailers incríveis, o resultado final foi bastante chocho. Para não dizer que foi de todo perdido, o filme de 2016 entregou ao mundo a Arlequina de Margot Robbieessa sim foi o grande trunfo daquele Esquadrão Suicida. Tanto que a emancipação de Arlequina (eu estou falando do filme) é de longe um dos melhores longas da DC após a trilogia Batman de Christopher Nolan.

Se agora temos a oportunidade de ver a redenção de vários vilões em O Esquadrão Suicida, o responsável indireto por isso é ninguém menos que o famigerado ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (risos). Parece piada, mas é verdade. O cérebro por trás do novo esquadrão, James Gunn, foi contratado pela DC/Warner por causa dos apoiadores conservadores de Trump. Vamos entender o caso! Até pouco tempo Gunn, que foi responsável pela franquia Guardiões da Galáxia da Marvel, era um dos principais diretores do Universo Cinematográfico da Marvel. Mas, de repente, inúmeros perfis superconservadores e apoiadores de Trump começaram a republicar uma série de tweets polêmicos de Gunn do final dos anos 2000. Eram postagens em que ele fazia piada com assuntos delicados, tais como, pedofilia, estupro e outros. Lógico que nessa época, 2008 a 2011, Gunn não trabalhava para a Marvel, mas, mesmo assim, isso respingou sobre ela e rapidinho o diretor foi mandado embora. No melhor estilo “Deus me livre, mas quem me dera”, a DC/Warner contratou Gunn para o filme em questão. Arrependida, a Marvel resolveu mais que depressa recontratar o diretor antes que o prejuízo que ele pudesse causar ao ir para a concorrente fosse ainda maior e agora ele é considerado, sem dúvidas, um dos maiores entendedores de adaptação de HQs para o cinema da atualidade.

A confiança da DC/Warner em Gunn foi tamanha que ele teve completa liberdade artística, podendo usar o personagem que quisesse do extenso cânone da DC e contar a história que bem entendesse dentre os inúmeros arcos das HQs dessa empresa. Parece que a senhora DC aprendeu com os erros. Diante disso, Gunn construiu uma obra que transita entre ser um reboot e uma continuação, dessa forma, quem já viu o filme anterior não terá nenhuma apresentação enfadonha de personagens, no entanto quem terá a primeira experiência com o grupo de vilões em O Esquadrão Suicida receberá informações suficientes para se sentir bem à vontade ao longo da história.

Gunn já é especialista em escolher personagens B dos quadrinhos e transformá-los em figuras marcantes no cinema. Foi assim com Guardiões da Galáxia e não será diferente em O Esquadrão Suicida. Ele escolheu os vilões que a DC tinha de pior e os colocou em cena de maneira muito divertida e sanguinária. A total liberdade dada ao diretor fez com que ele não se importasse nem um pouco com a classificação etária do filme, por isso, ele é violento e mata personagens sem dó nem piedade, gerando uma estranha ansiedade em saber qual a forma que o próximo personagem irá morrer, um bom exemplo disso é o primeiro ato. Se você for fã dos quadrinhos da DC sabe muito bem que Amanda Waller costuma tratar seu comandados como lixo a ser descartado, parece que Gunn assumiu a personalidade dela para si e age da mesma forma ao exterminar seu elenco (risos).

Na construção da trama o diretor foi muito experto, ele pegou uma fórmula já consagrada, a ação com um grupo formado por pessoas improváveis (tipo as histórias da franquia Mercenários), e incorporou a elas um pouco mais de sentimentalismo, com uma trilha sonora coerente e uma pitada de humor. Pronto, receita para o sucesso! Além disso, esse é um filme de vilões onde os vilões agem como tal, ou seja, eles fazem vilanias. O que é compreensível, afinal, ninguém fica bonzinho do dia para a noite. Interessante é que mesmo sabendo que os caras são maus, o expectador ainda irá se importar com alguns deles, pois existe uma construção empática muito bem-feita para esses personagens.

O elenco também faz toda a diferença. James Gunn escolheu grandes astros do cinema para a realização de seu filme. Estão de volta, além da estrela maior Margot Robbie, Viola Davis e Joel Kinnaman. Juntam-se a eles Idris Elba, Silvester Stallone (dificilmente você irá reconhece-lo), John Cena, David Dastmalchian e Daniela Melchior. Essa última merece uma menção especial, excelente atriz, a portuguesa rouba a cena sempre que aparece. Sua personagem, a Encantadora de Ratos, tem uma função muito específica na trama de maneira que o destaque a ela é muito bem merecido. Foi interessante ver a atriz comentar recentemente que para ganhar esse papel precisou fazer o teste com ratos de verdade. Uma verdadeira loucura! Vamos à trama.

O filme acompanha um novo time de vilões reunido por uma entidade governamental comandada por Amanda Waller, com o objetivo de realizar um trabalho sujo que ninguém tem coragem de fazer. A missão suicida acontecerá em Corto Maltese, uma ilha fictícia na América do Sul e comandada por ditadores, (nossa, ditadores militares na América do Sul, que surpresa! – #irônico). Esse filme tem como base de sua trama os quadrinhos criados por John Ostrander para a DC Comics.

Por que ver esse filme? Três aspectos chamam a atenção no novo O Esquadrão Suicida: ser despretensioso, ser divertido e ser emocional. O filme não tem vergonha de ser absurdo e isso é uma de suas melhores características. Na atual realidade caótica e sem sentido à qual estamos fadados na vida real, o absurdo de ver vilões numa missão de paz é, no mínimo, plausível. Afinal, nos acostumamos com militares que não são médicos comandando ministérios da saúde em plena pandemia e aceitamos como se isso fosse a coisa mais normal do mundo! Recheado de sangue e cenas brutais, a obra tem um ar de filme de ação dos anos 1980 que atinge diretamente a veia nostálgica do expectador, gerando um intenso prazer. Quebrando a barreira entre o bem e o mal, o filme de Gunn subverte o gênero de filme de herói e entrega um excelente recomeço para um Esquadrão Suicida anteriormente tão massacrado. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


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