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Gerir a Vida, Economia e Pandemias


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 29/12/2020
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Inicialmente, espero sinceramente que as pessoas que se dispõe a acompanhar esta coluna da exposição de ideias e os que não acompanham, tenham passado por um natal de paz e bençãos. Agora, meio que me desculpo por um título um tanto árduo, visando refletir um tema tão caro: a pandemia da Covid-19. Observem por favor, que o título não expressa a noção de solidariedade com a vida, mas sim sua gestão e quando me refiro aqui a este tipo de gestão, faço alusão não apenas à vida individualmente, mas as condições de vida próprias de uma população. Posso ser então questionado: “Qual a relação de gerir a população com a economia e a pandemia que experimentamos?” Buscando desenvolver nossa reflexão, peço auxílio o filósofo francês Michel Foucault que destaca que na Modernidade, o modo de governar se torna essencialmente biopolítico, objetivando gerir a vida dos corpos de uma população, tanto no seu sentido biológico quanto no capital vital de produção. Um tanto árido reconheço, mas atentem que ao fundo das discussões referentes às medidas contra a pandemia e as suas consequências, essa percepção política de Foucault, manteve-se e ainda se mantém, muito presente. O autor quer nos demonstrar que nessa configuração: “Foi no biológico, no somático, no corporal que, antes de tudo, investiu a sociedade capitalista. O corpo é uma realidade biopolítica. A medicina é uma estratégia biopolítica” (Foucault, 1979). O pensador que convidei para esta nova exposição de ideias quer nos demonstrar que epidemias como a da varíola, foram decisivas para o desenvolvimento de técnicas médicas para o controle de enfermos, tornando-se posteriormente técnicas políticas de regulação da população. Os alertas médicos contra as epidemias e pandemias, entre outros, serviram para modular estas técnicas que possibilitaram o gerenciamento da população, através dos dispositivos de segurança, relacionando-os com a biopolítica. 

A vida tornou-se o elemento político que legitimou a intervenção sobre o controle da população, em temas como a morbidade, a saúde pública, a higiene e as epidemias. Por consequência, a forma tradicional de se exercer o poder soberano “não mais se limita a segurança do príncipe e do seu território, mas com a segurança da população e, por consequência dos que a governam” (Foucault, 2009). Não basta governar um Estado, um território ou uma estrutura política, mas agora deve-se governar pessoas, indivíduos, homens e coletividades. Deve-se alertar que não há nesta forma de gerenciar a vida da população ou governá-la, essencialmente uma preocupação humanista, mas sim econômica, pois corpos cada vez mais saudáveis e vidas protegidas contra doenças, não acarretam em prejuízos para a gestão do Estado, e ao mesmo tempo, tornam-se aptos para produzir. Dessa maneira, aumenta-se a qualificação da vida, controlando-se seus acidentes e limitando-se suas deficiências. Busca-se controlar doenças difíceis de extirpar, e que são encaradas como as epidemias ou a pandemia da Covid-19, objetivando é assim que ao evita-las ou tratá-las, evite-se a subtração das forças de produção, a diminuição do tempo de trabalho, baixa de energias, custos econômicos, tanto por causa da produção não realizada quanto devido aos tratamentos que podem custar. Há sim neste caso, toda uma visão de gestão econômica e política sobre a vida. 

Penso que a vacinação em massa, torna-se essencial tanto para a boa gestão sobre a saúde coletiva da população no sentido econômico, quanto também para a proteção e preservação de vidas, pois não há um antagonismo de fato entre estes dois fatores. 

 

FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica. Tradução de Pedro Elói Duarte. Lisboa: Edições 70, 2010.

 FOUCAULT, Michel. Segurança, Território, População. Cursos do Collége de France. (1977- 1978). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009. 

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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