Ao compilar este novo texto para exposição e debate de ideias, não pude deixar de pensar como a pandemia do Covid-19, tem desvelado facetas cada vez mais preocupantes em nossa atualidade. Aqui, faço menção ao que denominei como a matematização da experiência da morte. Quero dizer que os óbitos registrados em nossa sociedade e em outras, ganham a consistência de dados matemáticos ou meras estatísticas. A experiência da morte, própria da nossa existência, apresenta-se simplesmente como uma mera contagem de mortes. Aparentemente, não nos afetando a partir de um sentimento de empatia, com os que se foram e com os que ficaram experimentando a dor da perda de entes ou amigos queridos. Reina uma indiferença ou apatia. Expressa-se mesmo um certo desdém, refletido em aglomerações em festas e outras atividades, refletindo-se inclusive uma insensibilidade um tanto assustadora. Os números e as estatísticas, talvez devido a uma frieza em sua linguagem matemática, aparecem como meros informativos de quantos morreram. Quantos morrerão ou sobreviverão. Têm-se a impressão de que até mesmo essas estatísticas, são ignoradas por muitos, por não acreditarem em sua veracidade. Ou imaginarem que a experiência da morte não as atingirá, pois de algum modo negam inclusive a letalidade do Coronavírus, em suas atitudes. Obviamente que um dia todos nós morreremos. A morte faz parte da nossa existência de ser. Ela chega para todos nós. Governantes e governados. Pode inclusive chegar subitamente, demonstrando toda a nossa fragilidade. Contudo, se a matematização dos óbitos pela Covid, são desprovidos de humanidade, nós deveríamos ao contrário, perceber que respeitar, solidarizar e empatizar com os mortos, nos torna mais humanos, quando rejeitamos o negacionismo e a indiferença, abraçando o cuidado com a vida.     

Rogério Luís da Rocha Seixas