*Por Gleison Leandro Santos Sousa

“Trabalhar no conforto de casa”. Por muitos anos, essa frase resumia o desejo de muitas pessoas. Isso porque a rotina cansativa no ambiente de trabalho sempre foi o principal divisor entre um dia de paz e um dia turbulento. Todo mundo acreditava que exercer a profissão dentro do próprio lar, ou seja, trabalhar em casa resolveria os problemas de então.

Para os profissionais da educação, sobretudo professores, esse pensamento se tornou realidade. Em boa parte das escolas, o principal método de ensino abordado tem sido as vídeo-aulas online. Os professores tornaram-se experts em programas de stream, em elaboração de sequências didáticas on-line, tudo isso em sua própria casa. Entretanto, o conforto do lar tem se apresentado muitas vezes como um ambiente hostil ao descanso e lazer.

Após quase cinco meses sem aulas presenciais por conta do afastamento social, percebe-se que o “trabalhar em casa”, na verdade, não é um oásis laboral, confortante e desestressante. Pelo contrário, tornou-se o mesmo que estar diariamente na escola. Muitos professores até declaram sentir falta das correrias que a vida de professor oferecia dentro do ambiente escolar. 

Para comprovar que o trabalho em casa acaba sendo mais estressante e, às vezes, improdutivo, basta estabelecer uma relação simples entre trabalho e lazer. Na minha experiência, por exemplo, passo a manhã inteira dentro do quarto ministrando aulas on-line ou corrigindo atividades dos alunos. E nas horas vagas tenho que utilizar o mesmo ambiente, o quarto, para descansar. Eis a minha maior dificuldade: definir emocionalmente se o meu ambiente particular de descanso está sendo utilizado para trabalho ou se o meu local de trabalho está sendo utilizado eventualmente para descanso.

Mas, então, como trabalhar e descasar no mesmo lugar todos os dias? 

Simples. Basta controlar o tempo. Calma, não é o tempo cósmico que decorre naturalmente, mas o seu tempo particular, tempo que você estabelece para realizar o que precisa ser feito. Aí está a chave para a porta do equilíbrio emocional e da paz interior. 

Por um lado, pode-se até pensar positivo em relação à economia de tempo, pois trabalhando em casa não é preciso se deslocar à escola, tampouco gastar tempo se deslocando de uma sala para outra na troca entre as turmas. Em contrapartida, por estar em casa, o tempo “disponível” pode se tornar inimigo do profissional devido ao fato de este acreditar que sempre há tempo para iniciar os trabalhos. Isso gera a armadilha comodista de deixar todas as atividades extra sala, responsabilidade do professor, para serem feitas depois... e depois... e depois... Aos poucos, o acúmulo torna-se um monstro do qual desejaremos fugir. 

Outro ponto negativo é que em alguns dias surgem dúvidas como: qual tempo você estará em casa para dar aula? Qual tempo terá para cuidar dos afazeres do lar? Em qual momento irá descansar? Assim, é necessário se organizar ainda mais. Utilizar técnicas de alta produtividade e não misturar alhos com bugalhos te permitirá desenvolver tudo da melhor maneira e no tempo certo. Infelizmente, nem todos conseguem ou tem a capacidade de fazer duas ou mais atividades simultaneamente, quiçá, bem feito.

E não foi apenas o ambiente de casa que se tornou ao mesmo tempo de lazer e trabalho. Os nossos aparelhos – como os smartphones – agora também compartilham funções de trabalho e lazer. Uma perguntinha: como ter alguns minutos de lazer nas redes sociais se agora celular e computador tornaram-se também ferramentas de trabalho? Para quem gostava de gastar o tempo livre dessa maneira, atualmente, depois de passar horas a fio envolvido com os equipamentos tecnológicos na rotina de “trabalho”, já não encontram disposição para relaxar visualizando o mundo nas plataformas digitais. 

Os indisciplinados perdiam horas do dia, quando não o dia inteiro, entretidos nas telas de um notebook, tablet ou celular. Agora, porém, trabalhando com essas ferramentas o tempo todo, nos momentos de folga o único pensamento é manter delas distância. Isso inclusive levou alguns a perderem o interesse total por tais tecnologias. 

Enfim, a vida do professor teve uma mudança radical em todos os aspectos. Trabalhar em casa, sem dúvidas, nunca mais será sinônimo de conforto e mordomia. Durante esse período de trabalho remoto, para alcançar o equilíbrio e não adquirir para si quaisquer ônus psicossomáticos será necessário disciplinar o uso do tempo e mudar seu mindset quanto ao compartilhamento de ambiente comum para trabalho e descanso. Bom trabalho. Bom descanso!