O lápis que não sabia o que escrever

Por Layla Fernanda Marques de Souza*
Havia um lápis que acreditava conhecer o sentido da própria existência:
escrever, desenhar, criar tudo o que poderia ser imaginado junto de sua moça.
Era ali, naquele movimento silencioso entre grafite e papel, que ele se sentia vivo e feliz.
Ele acreditava ser escolhido, necessário e insubstituível.
Mas a vida, com sua forma mais inesperada de ensinar, resolveu virar a página.
No aniversário da moça, chegou uma caixa muito bonita, toda enfeitada e com um laço enorme: Um presente.
Para o lápis, era apenas um presente bobo, mais para a moça, seria um novo mundo.
Ao abrir o embrulho, seus olhos se encheram de brilho, aquele brilho nos olhos de uma criança vendo um arco iris pela primeira vez: uma nova caixa de lápis novos, coloridos e muito vibrantes.
E naquele momento, algo dentro do velho lápis se apagou... Assim como a chama se apaga no fim da fogueira.
Ele percebeu que não era mais a primeira escolha.
Se viu sendo deixado de lado, como se tudo o que tivesse vivido com a moça já não fosse mais o suficiente.
Nos dias que seguiram, a moça pintava belas paisagens inteiras com seus novos companheiros: cores que ele jamais poderia oferecer.
E assim, o lápis experimentou um sentimento que nenhum grafite foi feito para suportar: A comparação.
Começou a olhar para si mesmo com desprezo e raiva.
Sentia-se opaco, sem brilho, limitado e muito pequeno.
Esqueceu que já havia criado formosas pinturas, esqueceu o valor de sua única cor, e esqueceu que, antes de tudo, possuía algo que ninguém podia tirar dele:
sua identidade e seu valor.
Quando acreditou não servir para mais nada, deixou de escrever. Deixou de ser ele mesmo.
Não porque a moça o rejeitou, mas porque ele mesmo se rejeitou primeiro.
Moral da história:
A comparação é a ponta afiada que apaga o brilho da nossa alma.
O lápis sofreu não porque outros lápis existiam, mas porque ele mesmo parou de reconhecer a sua própria importância.
Assim somos nós:Enquanto observarmos a vida pelo olhar do outro — o que o outro faz, o que o outro tem, o que o outro conquista — deixamos de enxergar o valor daquilo que é nosso. Deixamos de enxergar o valor que nós temos.
A verdadeira perda não acontece quando alguém escolhe outro caminhar, mas sim quando nós deixamos de acreditar naquilo que somos capazes de ser.
A vida sempre terá novas “caixas de lápis” ao nosso redor.
Mas só quem entende a sua essência jamais se sente fora da caixa...
· Layla Fernanda Marques de Souza formada em Processos Gerenciais pela universidade Unicesumar, atualmente atuando como Servidora Pública na Prefeitura de Nova Esperança como Assistente Administrativa.

