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E aí, vamos falar um pouco de ciência?


Por: Assessoria de Imprensa
Data: 31/07/2020
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*Por Rosilene dos Santos Oliveira

Lembro-me que no Ensino Fundamental, a disciplina de Ciências Naturais era uma das minhas favoritas, talvez por me despertar a curiosidade em relação aos fenômenos que ocorrem na natureza. Mal sabia eu, que em um futuro não muito distante me tornaria professora de Ciências. 

De início lhe questiono, caro(a) leitor(a), o que você entende por Ciência? Lhe convido a refletirmos juntos(as) nas linhas que seguem. 

De acordo com o dicionário, a etimologia da palavra ‘ciência’ é proveniente do latim scientia, que significa conhecimento. Chassot (2003) concebe a ciência enquanto uma das linguagens construídas pelo ser humano para explicar o mundo natural, de modo que sua compreensão nos possibilita o entendimento da linguagem em que a natureza está (sendo) escrita. Assim, a ciência pode ser entendida como o conhecimento que nos possibilita interpretar e compreender o mundo que nos rodeia e no qual estamos inseridos.

Nesse sentido, a compreensão dessa linguagem (ciência) requer que ao nos apropriarmos dela, sejamos capazes de atuar democraticamente em tomadas de decisões de maneira responsável, ética, consciente e bem informada. E que esse conhecimento se traduza em mudança de hábitos e na melhoria das condições de vida tanto em nível individual quanto do coletivo da sociedade (LORENZETTI; DELIZOICOV, 2001). Isso implica ainda em reconhecermos as utilidades da ciência para nossa vida, mas também as limitações e impactos negativos decorrentes de seu desenvolvimento (CHASSOT, 2003). 

Para tanto, é preciso promover em nossas escolas um ensino de ciências que possibilite a compreensão da própria ciência, sua importância, bem como do fazer ciência, o que direciona à necessidade de se romper com um ensino fragmentado, descontextualizado e distante da realidade do aluno. Além disso, é preciso desmitificar a visão equivocada a respeito da natureza da ciência, pois, por vezes, essa é concebida como algo inalcançável, individualista, fechada em si mesma, neutra (CACHAPUZ et al., 2005). De tal modo, é imprescindível problematizar tais aspectos, uma vez que a ciência é uma construção humana e histórica e não admite neutralidade, sendo influenciada por interesses externos, como os de esfera política e econômica. 

Além do mais, precisamos pensar que a ciência não se constitui uma verdade absoluta e dogmática, pois apresenta respostas a problemas que emergem em um determinado contexto e com o passar do tempo esses conhecimentos podem ser aprimorados ou até mesmo refutados. Por isso mesmo, a ciência é uma construção. 

Outro ponto importante de ser superado é em relação à ideia de uma ciência masculinizada, eurocêntrica, restrita a laboratórios e a grandes gênios, pois, na maior parte das vezes, a imagem de cientista propagada e que tem ocupado o imaginário das pessoas é a de um homem, de pele branca, vestido com um jaleco branco, em seu laboratório solitário (CACHAPUZ et al., 2005), mais precisamente, a imagem de um Albert Einstein. Aspectos que de acordo com Cachapuz et al. (2005), dissemina concepções negativas aos alunos, e principalmente, às alunas em relação a ciência, já que estas por muito tempo foram e ainda são silenciadas em sua intelectualidade por conta de discriminações de cunho social e sexual. 

Quanto à produção de conhecimento científico, pontuamos que este se utiliza de uma pluralidade de métodos e não se dá exclusivamente de maneira experimental em laboratórios, mas também é produzido por meio de pesquisas teóricas nas ciências humanas e sociais, por exemplo. Pensando em onde a ciência é produzida, ressalto que as universidades públicas são grandes responsáveis pela produção científica em nosso país.

Sinalizo que a ciência não deve ser compreendida enquanto a grande salvadora dos problemas da humanidade, tampouco como sua destruidora, pois seus empreendimentos podem tanto acarretar impactos positivos quanto negativos e daí, a importância de compreendermos criticamente as relações que se estabelecem entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente, aspectos que devem permear indissociavelmente o ensino de ciências. 

Diante do exposto, entenda-se que não adoto uma visão negacionista da ciência, uma vez que esta não se baseia em achismos, mas em evidências científicas. Em meu entendimento, adotar uma postura crítica em relação à ciência significa contribuir para a própria compreensão da ciência enquanto uma construção humana, histórica, contextualizada e mais real do trabalho científico.

Por fim, encerro minhas palavras ressaltando que é essencial a promoção de um ensino de ciências comprometido com a formação de cidadãos críticos, que compreendam a linguagem científica e a traduzam em suas vivências, que sejam capazes de tomar decisões democráticas tendo sempre em vista os princípios éticos e o bem comum. Uma vez que a função primeira da educação é a humanização dos sujeitos, que em Paulo Freire (2018) se traduz enquanto educação libertadora para a emancipação humana e transformação da realidade.

CACHAPUZ, António et al. A necessária renovação do ensino das ciências. São Paulo: Cortez, 2005.

CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista brasileira de educação, n. 22, p. 89-100, 2003.

LORENZETTI, Leonir; DELIZOICOV, Demétrio. Alfabetização Científica no contexto das séries iniciais. Ens. Pesq. Educ. Ciênc. (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v. 3, n.1, p. 45-61, 2001.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 65 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2018.


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