Dias de pai e partidas
Há o Dia dos Pais, e outros. Resolvi escrever sobre alguns dias do meu pai, Antônio. Para tanto, escolhi uma das atividades de que gostava de viver: futebol. Digo logo que ele era torcedor fiel do Athletico Paranaense, pois tinha orgulho disso.
Quando eu era criança, lembro que ele ouvia as partidas pelo rádio. Achava curioso como parecia entender o que o narrador dizia sobre tudo (ou quase tudo) o que acontecia na partida. Como alguém falava tanto, tão rápido, por tanto tempo? Em contrapartida, quando gritava “Goooooooooooooooooooooooool”, a palavra pequena era esticada ao máximo possível, fazendo uma morosidade plena. Meu pai ouvia, comemorava ou ralhava… e isso poderia ser logo revertido, quando era anulado.
Quando ele passou a assistir pela televisão, sentava-se o tempo que pudesse ficar. Dava “murrinhos” no braço do sofá, com diferentes intensidades. Esse gesto servia para qualquer situação: faltas, gols, impedimentos, escanteios, disputas de pênaltis… Haja coração!
Assisti a poucas partidas e, por entender pouco sobre o jogo, observava outros aspectos. Uma vez, por exemplo, notei que jogadores e adversários pareciam orar pela vitória do próprio time. Fiquei curiosa ao pensar em quais critérios o mesmo Deus usaria para atender um ou outro grupo. Será que o empate confortaria? De todo modo, acredito que nunca se perde em falar com Deus.
Como nem tudo são flores, já discuti por causa de jogos. Uma vez, ele deixou de sair para almoçar conosco para assistir. Outra vez, estava assistindo e não deu a atenção devida/esperada. Ora bolas! Depois entendi que ele simplesmente gostava disso e que não precisava competir.

Fonte: acervo pessoal
Era bom ouvi-lo falar do campeonato e de pormenores. Descobri que geralmente é interessante ouvir pessoas falando sobre o que lhes agrada. Ainda que seja um assunto pouco conhecido para quem ouve, pode haver alegria ampliada, que contagia.
Enfim, aprendi muito enquanto pude assisti-lo. Ele faleceu cedo, repentinamente, numa terça-feira de verão. Saber de sua partida foi doloroso de gritar e de sucumbir. Quando selecionei os pertences dele, encontrei anotações em cadernos. Ele registrava os resultados de todas as partidas de campeonatos que seu time competia. Notei que havia valor nisso e guardei. Tempo depois, coloquei num quadro. Coisas importantes de gente importante, decoram.
Não posso deixar de contar que fui a Curitiba e conheci a Ligga Arena, o estádio do Athletico Paranaense. Ele dizia que queria conhecer, mas não foi. Nesse dia, fiquei emocionada de felicidade e de saudade. Por considerá-lo importante, recomendo que o próximo parágrafo seja lido com morosidade plena.
Andei devagar e conheci todo o redor do estádio. Mais tarde, entrei. Segui pela passarela até chegar ao campo. Pisei e andei no campo. Fui até o mais próximo do centro possível. Olhei para cima. O teto retrátil estava fechado. Olhei para a frente e rodei duas voltas completas para ver todos os detalhes possíveis. Fiz outra vez quando estava mais cheio de gente. Sorri ao pensar que era aquela a visão que os jogadores tinham quando estavam jogando. Realizei um sonho meu num lugar que era sonho dele. Assisti ao show de Gilberto Gil. Cantei e pulei de alegria. “Gooooooolaaaaaaaaaaaaçoooooooooo” comemorado, não anulado.
Partidas acontecem, mesmo que a gente não compreenda.
Desejo que o Dia dos Pais tenha toda a alegria possível. Se for um dia sem comemorações e/ou de ausência (de pai, de filho, de filha, ou outras), sinto muito. Nesse dia, eu quero sentir toda a alegria possível e cantar “Aonde quer que eu vá levo você no olhar”, de Os Paralamas do Sucesso. Se te fizer bem, cante também.