A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Desconhecimento feminino do próprio corpo: caso de saúde pública


Por: Assessoria de Imprensa
Data: 18/08/2020
  • Compartilhar:

Por Lorenna Castro* e Geovanna Castro**

A estigma e perseguição ao corpo da mulher, embora tenha início na Idade Média, prolongou-se no tempo e, junto com o colonialismo, se instalou na sociedade brasileira patriarcal e ainda produz graves consequências, como o desconhecimento feminino ao próprio corpo. De outro lado, uma das frentes de luta dos movimentos feministas é justamente em relação à saúde da mulher, para a reapropriação do conhecimento do corpo e controle de suas funções [1]. 

Milhares de brasileiras ainda não sabem como e onde buscar o contraceptivo ofertado nas unidades básicas de saúde, incluindo adolescentes. Outras sabem, mas se sentem constrangidas em buscar tal aparato. Assim, gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis (IST’s) são reflexos desse tabu que ainda permeia a nossa sociedade. Outro fator que dá continuidade ao desconhecimento, é o despreparo de profissionais da saúde que, por vezes, mais julgam do que ajudam na superação dessa situação. Assim, acaba por inibir a procura feminina por auxílio e informações, o que deveria ser simples exploração de um direito de saúde pública, já que a saúde é direito de todos e dever do Estado, como está garantido na Constituição Federal (art. 196).

Também,  um diagnóstico de câncer para uma mulher é como um balde de água fria. O câncer tem se tornado uma doença cada vez mais comum e a epigenética explica muito bem, mas falemos em uma linguagem acessível, os hábitos modernos (pouco exercício e muito fast food) preparam o terreno para uma propagação celular exacerbada, se há uma pré-disposição genética, pronto(!), está estabelecido o pânico.

 Os pré-cânceres de colo do útero, por exemplo, são diagnosticados com muito mais frequência do que o câncer de colo do útero invasivo [2], logo, a taxa de mortalidade por câncer de colo do útero cai significativamente com o rastreamento da doença pelo exame de Papanicolau. O problema é que muitas mulheres nem sabem o que é Papanicolau, outras, “morrem” de vergonha de se submeter a tal exame. O câncer tem cura quando diagnosticado no momento certo (precocemente), por isso é tão importante se cuidar. Você, mulher, na faixa etária de 25 a 64 anos, que já teve atividade sexual, faça seu exame anualmente, a rotina recomendada para o rastreamento no Brasil permite a repetição do exame a cada três anos, após dois exames normais consecutivos. A rede pública de saúde (SUS) tem o exame à sua disposição, procure sua Unidade Básica de Saúde (UBS). Cuide-se.

Outra preocupação. Hoje, a obesidade é uma das doenças crônicas mais comuns, mais de 600 milhões de adultos podem ser classificados como obesos e, em comparação às mulheres com IMC (índice de massa corporal) adequado, mulheres com obesidade apresentam risco aumentado de câncer mediado por estrogênio, síndrome do ovário policístico, abortos espontâneos, além de fertilidade prejudicada [3]. E, ainda como resultado, as pessoas com obesidade enfrentam preconceitos e estigmas. Este estigma colabora para com os contribuintes fisiopatológicos da obesidade e, mais uma vez, a mulher deixa de procurar ajuda por vergonha do seu corpo ou, em uma tentativa desesperada de aceitação, para tentar provar que estar acima do peso é normal, desprovida de conhecimento científico, não acredita que obesidade é doença e desencadeia em si outros problemas de saúde como diabetes, hipertensão, etc. 

Avanços importantes na saúde da mulher ocorreram nos países em desenvolvimento na era pós-colonial, incluindo maior reconhecimento da saúde da mulher e dos direitos sexuais, melhor acesso aos serviços de saúde reprodutiva e planejamento familiar [4]. Conhecer o próprio corpo é um direito, mas também precisa ser encarado como um dever individual. Nos cuidar é um ato de amor para conosco e com aqueles que nos amam.

REFERÊNCIAS:

[1] ALVES, B. M.; PITANGUY, J. O que é feminismo. São Paulo: Brasiliense, 1985.

[2] INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA. Detecção precoce. 2020. Disponível em: https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/acoes-de-controle/deteccao-precoce. 

[3]  Lindheim SR, Glenn TL, Whigham LD. Recognizing and eliminating bias in those with elevated body mass index in women's health care. Fertil Steril. 2018; 109(5): 775-776. 

[4] Mohindra KS, Nikiéma B. Women's health in developing countries: beyond an investment?. Int J Health Serv. 2010;40(3):543-567.


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.