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Corpos perambulantes pelas ruas


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 18/12/2023
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Saudações companheiros e companheiras de troca de ideias e promoção dos debates! Para dar sentido ao título desta nova troca de ideias que proponho, destaco um estudo recente desenvolvido pelo IPEA embasado em estudos feitos pelo CadÚnico do governo federal: “O número de pessoas cadastradas que compõe a população de rua, cresceu quase 10 vezes na última década no Brasil” (Folha de São Paulo, 10-12-23).  Não vou me demorar nos números, mas a mesma pesquisa indica um aumento significativo na proporção de moradores de rua em nossas cidades.

São estas pessoas que no título denomino como “corpos ambulantes pelas ruas”. Indivíduos desprovidos em grande maioria de moradas. Perambulam pelas ruas. Dormem nos cantos. Caídos como coisas. Normalmente, nem olhamos para eles. Se olhamos, muitas vezes é devido ao fato de seus corpos, atrapalharem nossa passagem em uma esquina, por exemplo. Comumente, provocam forte repulsa. Um sentimento de desprezo. Ou simplesmente, nos causam um grande incômodo, na maior parte das vezes, pois perambulam pelas ruas, desnudos, imorais, sujos, deslocados, desbocados, largados. Assim os condenamos. Não são seres livres, mas condenados a perambular pelas ruas.

São condenados e vistos como “marginais” no sentido criminoso do termo. O que leva a mais repulsa e até ódios a estes corpos que perambulam pelas ruas. São inúteis. Improdutivos. Logo, tornam-se descartáveis. Descartar o que é inútil. Semelhante a lixo que repulsa e atrapalha. Assim, quando os percebemos, dificilmente os vemos como “pessoas”. São vistos como entulho. Coisas inúteis e até nocivas. Inferiores inclusive a animais. São coisas que perambulam pelas ruas e só atrapalham e em nada somam. Corpos condenados, que somente perambulam e vagabundeiam pelas ruas.

Penso que sem posições extremistas, ou seja, sem excessivo vitimismo ou ódios genocidas, precisamos analisar as razões e consequências, desta perambulação não de “meras coisas largadas”, mas sim “pessoas à margem”. Percebê-los como alteridades condenadas a serem desprezadas, denunciando desta forma relações, práticas e modelos sociais, econômicos, políticos e educacionais, independentemente de ideologias, que estão produzindo “estes corpos de rua”, gestados como vidas condenadas a “seres” de rejeição, marginalização e descarte. São condenados, por nós, como seres que escolheram o seu modo de existir e viver, isto, é em perambular pelas ruas. Logo, pouco tempo viverão, e de acordo com nossas condenações, é o que merecem, por “escolherem perambular pelas”.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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