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“Cartas à Mãe”, de Antoine de Saint-Exupéry


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 15/02/2024
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De Antoine de Saint-Exupéry, a maioria só conhece o belo e icônico “O Pequeno Príncipe”, porém, esse aviador e escritor escreveu outras obras belíssimas, como “Correio Sul”, “Voo Noturno”, “Terra dos Homens”, “Piloto de Guerra”, “Cidadela” (póstuma) e o conjunto de cartas intitulado “Cartas à Mãe”, feito de 110 epístolas destinadas majoritariamente à mãe, Marie de Fonscolombe.

         A primeira carta de Exupéry data de 11 de junho de 1910, quando ele tinha apenas 14 anos, e a última é de julho de 1944, quando tinha 43 anos. O que se visualiza em “Cartas à Mãe” é um menino e um homem devotado que se expõe completamente à genitora, dando-lhe todo tipo de tratamentos carinhosos, sendo os mais comuns “mamãe querida”, “minha querida mãe” e “minha mamãezinha”.

Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944)

Uma característica marcante nas cartas, que tange aos pedidos feitos à mãe e que só se extinguirá próximo aos trinta anos, é o pedido por ajuda financeira. Na época da escola, o garoto queria comprar livros, sair para a casa de algum parente e pagar as despesas de estudante. Na medida em que avançava nos estudos, continuava pedindo por livros, mas também por uniformes e que custeasse despesas técnicas de um ou outro curso. Já quando adulto, seja vendendo caminhões ou no início na carreira de piloto, ele pedia dinheiro por causa das despesas ordinárias (roupa, comida, deslocamento) e de hospedagem. O que se vê é um “Antoine” longe da glória e longe da paz financeira, algo que angustia o leitor.

         Outro aspecto que se encontra nas cartas é a preocupação de Saint-Exupéry com a família. Mesmo longe, já que ele morou distante da mãe e dos irmãos quase a vida inteira, ele queria saber como todos estavam. Estava em Paris? Queria saber como a mãe estava em Saint-Maurice. Estava em Marrocos? Idem. Estava em Buenos Aires? Idem. A preocupação familiar estava arraigada no aviador, ela era o seu chão.

         Em “Cartas à Mãe” se encontra, também, o desenvolvimento do ofício de escritor, e em uma carta ou outra ele diz como de fato deve se dar essa atividade, sendo que o escritor deve ser verdadeiro e só escrever quando a ideia estiver amadurecida (ele se referia à escrita de um romance). Porém, nas epístolas, não há um tratado sobre um assunto em específico. Por mais que a mãe, uma pintora, fosse culta, o que ele queria dar e receber era amor. O amor cativa, como bem concluiu em “O Pequeno Príncipe”.

         Antoine de Saint-Exupéry, que foi um pioneiro da aviação, sendo piloto desde 1920, pôde trabalhar na área tanto na Europa quanto na África e na América do Sul, fazendo serviços de correio e, depois, na Segunda Guerra Mundial, como piloto de guerra. É desolador ler as cartas 103, 104, 105 e 110 e se deparar com o amargor da última: “Quando será possível dizer àqueles que amamos que os amamos?” (SAINT-EXUPÉRY, 2017, p 159). A guerra é isso: morte e mal-estar. A vida de Antoine será ceifada em decorrência da Segunda Guerra. Porém, como aviador que era e como escritor que era soube cativar o mundo de modo que suas palavras pairam sobre as nossas cabeças e certamente pairarão enquanto existirem seres humanos. “Cartas à Mãe”, livro póstumo publicado pela genitora, é um convite para que conheçamos o escritor por trás da caneta, bem como o aviador por trás das asas.

Antoine de Saint-Exupéry. Cartas à Mãe. Trad. de Narcelli Piucco. São Paulo: Via Leitura, 2017.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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