A vida de estudante não é e nunca foi das mais simples. Refiro-me aqui, no caso, àquela pessoa que faz do estudo uma profissão, e não de alguém que só frequenta aulas por um dado período do dia. Quando o estudo se torna uma profissão, geralmente ele se converte em uma tarefa de tempo integral, gera múltiplas preocupações, o que exige bastante tanto da parte física quanto da intelectual (essas esferas não se separam!).

Para fins de exemplificação: um estudante do ensino médio sabe que não basta só assistir aulas, tem que participar, e que não bastam apenas 4 horas diárias de frequência à escola, é preciso ler e praticar o que foi ensinado. Para ser aprovado em um vestibular, por mais que isso hoje não seja das tarefas mais difíceis (excetuando alguns cursos) em razão das muitas universidades existentes, ainda assim exige um esforço do estudante. E esse esforço muitas vezes vem acompanhado de estresse e ansiedade.

Por sua vez, quando se é aluno de um curso superior, muitas vezes a dificuldade pode ser dobrada se comparada ao ensino médio, seja porque a pessoa está sendo formada diretamente para o mundo do trabalho, seja porque, muitas vezes, ela trabalha durante o dia e só resta a noite para estudar. Fins de semana livres? Para o estudante isso se torna quase um luxo, uma exceção.

Quando o estudante consegue um estágio não obrigatório (aquele que não é exigido enquanto componente curricular), isso é um capítulo à parte em sua educação, seja porque lhe ajudará a crescer na profissão almejada (aspecto positivo), seja porque ele será pouco remunerado e não terá vínculo trabalhista (aspecto negativo). Costuma-se até brincar com um trocadilho: “estagiário é um escraviário”, pois, não raro, exerce um trabalho relativamente pesado, mas com uma contrapartida financeira muito baixa. Geralmente, a bolsa (ensino/pesquisa/extensão) para um estudante universitário é de R$ 400,00 e isso, há de se convir, é insuficiente para uma pessoa se manter em relação a itens básicos, como moradia, transporte, alimentação...

Pelos exemplos acima é possível afirmar que a frase “você trabalha ou só estuda?” não tem o menor sentido, pois o estudo exige, sim, energia e disciplina. Estudar é um verbo de ação, e, enquanto tal, exige coragem e disciplina. Sem coragem e disciplina não há estudante. Sem coragem e disciplina não há trabalho.

* Esse texto estreou a Coluna Travessias, que recebe esse título porque o autor atravessará várias áreas, tais como educação, cinema, literatura e história. (Edição 1158, 18 de fevereiro de 2020)