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Assassinos da Lua das Flores


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 26/10/2023
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Para a edição dessa semana quero me dedicar a comentar sobre um filme realmente interessante. Paradoxal, ele é prazeroso de ser visto por sua qualidade, mas, na mesma medida, difícil devido ao seu conteúdo. Desde a semana passada, o novo filme do diretor Martin Scorsese está em cartaz no cinema e tem despertado boas impressões tanto no público quanto na crítica. Essa semana, a Coluna Sétima Arte trará algumas considerações sobre Assassinos da Lua das Flores.

O primeiro ponto que chama a atenção sobre esse filme é sem dúvidas a direção, que ficou a cargo de um dos grandes nomes de Hollywood, Martin Scorsese. Por isso, vale a pena fazer uma breve retomada de sua importância para a História do cinema. Ele é um dos mais renomados diretores de todos os tempos, tem uma carreira que abraça uma notável diversidade de gêneros e temas. Ao longo das décadas, ele dirigiu filmes que exploraram desde dramas criminais a biografias, sempre trazendo à tona questões morais e éticas que provocam reflexões profundas. Uma característica marcante de sua carreira é sua capacidade de estabelecer colaborações duradouras com atores e profissionais da indústria, incluindo o icônico Robert De Niro e a talentosa editora Thelma Schoonmaker. Seu impacto na cultura pop é inegável, com obras como Touro Indomável, de 1980, e Os Bons Companheiros, de 1990, tornando-se referências no mundo do cinema.

Além de suas conquistas na direção de longas-metragens, Martin Scorsese é um fervoroso defensor do cinema como forma de arte e tem manifestado preocupação com o domínio de blockbusters na indústria cinematográfica. Seu compromisso com a preservação e apoio ao cinema autoral é evidente em suas palavras e ações. Scorsese é um verdadeiro ícone da sétima arte, cujo legado continuará a influenciar cineastas e cinéfilos.

Agora, Scorsese busca emplacar mais um grande sucesso no cinema. Mesmo que o filme que chegou às telas grandes seja uma segunda versão daquela idealizada a priori por ele. Isso porque, ao que tudo indica, a ideia original fosse utilizar o material que ele tinha em mãos para construir uma história de base investigativa, no entanto, a pandemia chegou, as filmagens ficaram paralisadas por quase dois anos, e a Apple TV+ se tornou financiadora do projeto, alterando o roteiro drasticamente.

A obra mergulha nas páginas da história com uma narrativa enraizada em fatos reais, trazendo profundidade e autenticidade à trama. Baseado no livro-reportagem de David Grann, o filme aborda a injustiça histórica vivida pelos Osages, uma nação de nativos americanos que prosperou após a descoberta de petróleo em suas terras. Ao revelar essa história por meio dos olhos dos opressores, o filme cria uma premissa envolvente que instiga reflexões sobre a opressão e a ganância.

O filme pode ser descrito como um faroeste peculiar, repleto de violência e assassinatos brutais, mas seu interesse principal reside na denúncia das atrocidades cometidas contra os Osages. A direção de Scorsese é impressionante, transportando o público para a década de 1920 com locações, figurinos e fotografia impecáveis. A trilha sonora, discreta e eficaz, conduz as emoções do público de maneira sutil.

O roteiro, coescrito por Scorsese e Eric Roth, segue uma estrutura bem definida com três atos marcantes e oferece uma perspectiva única ao focar nos vilões da história. Além disso, o elenco estelar, incluindo Leonardo DiCaprio, Robert De Niro e Lily Gladstone, traz atuações excepcionais que enriquecem a narrativa. DiCaprio entrega mais uma atuação memorável, enquanto De Niro acrescenta sua vasta experiência ao filme. Os atores que interpretam os Osages também se destacam, com Lily Gladstone brilhando como Mollie, herdeira das valiosas terras.

Além dos aspectos já mencionados, é importante ressaltar que Assassinos da Lua das Flores se destaca por oferecer uma narrativa complexa e multifacetada, explorando temas relevantes como corrupção, ganância, opressão e injustiça. O filme não se contenta em simplesmente entreter, mas sim em educar e conscientizar o público sobre eventos históricos muitas vezes esquecidos.

A escolha de Scorsese em abordar a história a partir da perspectiva dos opressores permite uma análise mais profunda das complexidades humanas e morais envolvidas. Isso cria uma experiência cinematográfica rica em nuances e que desafia o espectador a refletir sobre as implicações desses eventos no contexto atual.

Além disso, o filme enfatiza a importância de lembrar e aprender com os erros do passado, destacando como a história se repete quando a ganância e a injustiça não são enfrentadas. Assassinos da Lua das Flores serve como um lembrete poderoso de que a justiça e a igualdade são valores fundamentais que devem ser protegidos e promovidos.

Vamos à trama! A sinopse oficial é bem concisa, cuidadosa para não oferecer nenhum tipo de spoiler. Ela indica que os assassinatos dados a partir de circunstâncias misteriosas na década de 1920, assolando os membros da tribo Osage, acabou desencadeando uma grande investigação envolvendo o poderoso J. Edgar Hoover, considerado o primeiro diretor do FBI.

Por que ver esse filme? O principal motivo para vê-lo no cinema, é que Assassinos da Lua das Flores é uma obra que vai além do entretenimento, oferecendo uma narrativa rica, atuações brilhantes e uma exploração profunda de questões sociais e morais. Assistir obras desse tipo, construídas com tamanho esmero e tanta arte é realmente uma experiência. Algo que gera, ao final, aquela sensação de catarse, fazendo com que o expectador reflita sobre os dramas humanos despertados pela mesquinhes e pelo infame sentimento de superioridade racial. Essa é uma adição significativa ao cânone de Scorsese e ao cinema em geral, destacando-se como uma obra de relevância cultural e, até mesmo, histórica. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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