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Adoráveis Mulheres e Vovó Saiu do Armário


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 28/01/2021
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Pouco mais de um ano atrás eu aproveitava este espaço para comentar sobre Adoráveis Mulheres. Na época ele era a grande estreia no cinema e uma das promessas entre os indicados ao Oscar 2020. Nesse início de 2021, volto a comentar sobre esse filme, até porque muita gente deixou de vê-lo no cinema devido ao período de férias e agora tem a chance de conferi-lo no conforto do lar por meio da HBO, tanto em seus canais na TV por assinatura quanto pelo aplicativo do HBO GO. Com a falta de novidades no cinema e o esgotamento das novidades no streaming em final de mês, Adoráveis Mulheres acaba se revelando uma boa pedida.

Esse drama de época traz a história das irmãs March, personagens que já são velhas conhecidas do público que ama literatura e do público que adora o cinema. A obra é baseada no livro de Louisa May Alcott e é atemporal, pois está muito além dos seus 150 anos de idade. A história já foi adaptada para o cinema seis vezes e sua sétima, que chegou agora pela HBO, é intimista, mas não tão interessante quanto sua versão anterior. Isso porque a diretora que também é roteirista, Greta Gerwig, conseguiu levar para as telas uma das melhores adaptações literárias já vistas em todos os tempos, mas permitiu que suas personagens perdessem muito do carisma que lhes são tão característicos. Talvez por isso esse filme tenha sido tão esnobado no Oscar do ano passado.

Sem desmerecer os trabalhos anteriores — inclusive a versão de 1994 com Winona Rider é excelente —, o que se tem na versão atual é uma narrativa não-linear que, na mão de outro profissional, seria problemática e difícil, mas que flui perfeitamente e amplia o prazer e a história nas mãos competentes de Gerwig. Diante disso, eu já adianto, fique atento, pois o fato de ser não-linear pode dificultar a compreensão da trama para quem for mais desatento. De qualquer forma, a história tem grande fluidez e a diretora transita entre várias épocas ao longo do filme, dando ênfase a vários momentos como uma colcha de retalhos.

Essa forma diferente de narrar a complexa história de Adoráveis Mulheres abre arcos de desenvolvimento para todas as irmãs March. Jo ainda é a protagonista, mas dessa vez é possível conhecer e se emocionar com as demais irmãs que brilham tanto quanto a própria Jo. Algo que é muito bom, já que o filme não conta apenas com roteiro e direção espetaculares, mas também com um elenco de superestrelas, tendo destaque dentre elas Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Laura Dern, Timothée Chalamet, Meryl Streep e, é claro, a indicada ao Oscar de Melhor Atriz Saoirse Ronan. Confira a trama!

As irmãs Jo (Saoirse Ronan), Beth (Eliza Scanlen), Meg (Emma Watson) e Amy (Florence Pugh) amadurecem na virada da adolescência para a vida adulta enquanto os Estados Unidos atravessam a Guerra Civil. Com personalidades completamente diferentes, elas enfrentam os desafios de crescer unidas pelo amor que nutrem umas pelas outras.

Caso você queira algo menos tradicional e muito mais experimental, eu indico Vovó Saiu do Armário, que estreou na Netflix recentemente. Ao chegar ao final de janeiro, a Netflix não tem muitos filmes programados para suas estreias e, bem por isso, essa comédia romântica pra lá de europeia acabou ganhando espaço no serviço de streaming, alcançando uma visibilidade que seria muito difícil de se imaginar caso o filme tivesse ido diretamente para o cinema.

De longe, Vovó Saiu do Armário não é o filme que o “cidadão de bem” vai adorar, isso porque ele traz, como indica seu título, uma história abertamente LGBTQ+. Mas não se iluda, esse longa é muito mais sobre um romance heterossexual do que um romance homossexual. Ou seja, o romance entre as duas senhoras é apenas pano de fundo para essa comédia romântica tipicamente europeia. Gostaria de frisar essa afirmação, esse filme é uma comédia europeia e faço isso porque muita gente que está acostumada com os pastelões brasileiros vai estranhar o andamento e as piadas sutis do filme, já que esse tipo de comédia não é tão popular por aqui.

Esse filme, que é uma coprodução entre Portugal e Espanha, tem sido bastante malhado pela crítica especializada, principalmente porque apresenta um amadorismo quase exagerado. Por exemplo, as transações de uma cena para outra são muito bregas e já caíram em desuso muito tempo, mas a meu ver o filme utiliza isso a seu favor, já que é construído em cima de clichês e não busca inovar em nada, o que o torna uma obra despretensiosa, fazendo com que suas falhas técnicas ganhem até um ar de charme intencional. Se falta experiência e técnica na direção e edição, sobram belas imagens áreas da Cidade do Porto ou da Costa da Espanha.

Provavelmente esse amadorismo técnico seja resultado da pouca experiência da diretora Ángeles Reiné, já que esse é seu primeiro filme. Bem por isso, é possível afirmar que a obra é bastante ousada por trabalhar de forma muito natural um dos grandes tabus da sociedade, a sexualidade na terceira idade, sobretudo a sexualidade entre pessoas do mesmo sexo (há algum tempo uma novela da Globo resolveu abordar essa temática e amargou duras críticas de seu público). Como a história está mais focada nas relações familiares e não especificamente no aspecto da sexualidade tudo fica muito mais palatável para todos. Mesmo a crítica velada e realizada com muita liberdade artística para os posicionamentos da Igreja acaba fluindo bem e possibilitando uma leve reflexão sobre os rumos da sociedade atual. Vamos à trama!

Em Vovó Saiu do Armário, após se revelarem homossexuais e decidirem se casar, duas setentonas causam um alvoroço em suas famílias conservadoras e na sociedade a sua volta, chegando a colocar em risco o noivado de uma das netas. Nessa comédia, ambas as mulheres terão que lutar por aquilo que acreditam.

Dois filmes bastante distintos, mas igualmente interessantes. Adoráveis Mulheres é uma obra de arte e atende ao gosto de muitos fãs de cinema, por outro lado Vovó Saiu do Armário é muito menos uma comédia (já que não tem muita intenção de fazer rir gratuitamente) e muito mais um romance, que atende em cheio ao público que busca um filme leve. Aproveite os dois e curta bem esse finalzinho de férias. Boa sessão!

 
 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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