Aparência de sustentabilidade!
Retornei para os últimos meses de aula na pós-graduação que faço em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável ofertada pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR). Algo que me incomoda muito é a maneira como estamos enfrentando as questões ambientais em nossos dias.
Por vezes alimentamos o discurso de sustentabilidade, porém as ações não correspondem a teoria. Na prática, diariamente produzimos muito lixo e geramos bastante resíduo.
Se no século passado as guerras dizimaram milhões de vidas. Em nossa época, a “ameaça” ao mundo se tornou ambiental. Perceba o tanto de desastres naturais ou causados pela intervenção humana na natureza, a citar, a tragédia da Vale em Brumadinho-MG.
Pouco ou quase nada recebemos de educação ambiental. Na Escola lembro-me das comemorações do dia da água, da árvore e semana do meio ambiente. Ficamos restritos e engessados com esses conteúdos, entendendo vagamente que isso era cuidar do ambiente.
No mês passado, o primeiro Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) realizado em Nova Esperança em 2019 apontou que o município está com 6,9% de infestação no índice geral. O percentual colocou a cidade em alto risco de epidemia pelo Ministério da Saúde que preconiza até 1%.
Talvez a resposta para os altos números de infestação não seja apenas por culpa das pessoas que não limpam direito os seus quintais (que também tem sua parte de responsabilidade). É muito fácil rotular os brasileiros como irresponsáveis, que não cuidam das suas casas e deixam acumular água parada e ficar por isso mesmo.
Quando se observa que a dengue não é uma doença nova, a exemplo de outras que são transmitidas por insetos, tais como doença de chagas, febre amarela, malária e leishmaniose, o tema ganha proporções maiores. Agora o momento é de atenção devido a febre amarela.
Países desenvolvidos já tiveram surtos, em épocas passadas, quando estavam se desenvolvendo, como acontece com o Brasil e outros países agora afetados. O que isso quer dizer? Comprova que o desequilíbrio ecológico provocado pelo desenvolvimento desordenado das cidades, indústrias e monoculturas eliminou grande parte dos predadores naturais dos insetos.
Sapos e rãs, por exemplo, importantes predadores naturais dos mosquitos, vêm sofrendo reduções em suas populações em diversos ecossistemas ao redor do planeta. Na falta de predadores naturais, o mosquito se reproduz de maneira intensa.
O velho ditado que “a corda arrebenta para o lado mais fraco”, é fato. O governo transfere toda a responsabilidade e culpa do Estado para a população. São raros os Estados e municípios que possuem profissionais capacitados em planejamento ambiental e controle de pragas.
A invasão de monoculturas (na nossa região a cana de açúcar) devido a falta de uma legislação mais rígida dos municípios delimitando a área de plantio acelerou o processo de desequilíbrio causado pelo homem ao meio ambiente.
O discurso bonito da sustentabilidade esbarra no econômico. Equacionar a preservação ambiental com a geração de emprego é fundamental.
Diante disso, como os danos ambientais são irreversíveis, é urgente investimentos em políticas públicas voltadas a sustentabilidade e preservação do pouco que ainda resta, caso contrário, seres humanos dotados de racionalidade perderão a luta para um pequeno mosquito.